Conversa fiada ou Nelson Rodrigues
Ela negava. Achava uma bobagem. Estavam casados há mais de 10 anos. No começo, ele insistia no assunto. Sexo a três. Tem até um nome em francês. Ela não via graça. Volta e meia a pauta surgia. Num filme. Nas férias. Na academia. Na pia da cozinha. Com o tempo, ele fez piada. Contava nos churrascos que a mulher não tinha coragem. Ela franzia o sobrolho. Até que ficou farta. Ele sempre sonhou em fazer sexo com duas. Ela e qualquer outra. Vai saber. Ou talvez até tivesse nome e sobrenome. Não interessa. Naturalmente ela sabia que ele nunca imaginou sexo a três. Era egoísta demais para querer dividir. Só queria ganhar sem saber repartir. Um dia, saindo de um jantar, na casa dos amigos, ela sentenciou: podemos fazer sexo a três. Ele arregalou os olhos. Por um instante, um sorriso estampou seus lábios. Ela, cirurgicamente completou: mas só se for com o Carlos. Ele ficou chocado. Engoliu a própria língua. Não disse nada. Calou-se num silêncio retumbante. Nunca mais falaram no assunto. Carlos, seu melhor amigo, sumiu. Ela sabia como encerrar uma conversa fiada. Conseguiu esconder até o amante do marido.