As araucárias e a utopia que nos move
Meu fim de ano foi bom.
A ideia era fugir um pouco do agito do litoral, como fizemos no ano passado (agora retrasado?) e curtir mais a natureza. Este contato com o que é mais simples é algo que nos une ainda mais.
O lugar, uma pousada na serra com chalés individuais, um diferente do outro, praticamente sem contato visual direto, mas todas com uma bela visão de um lago à frente. Além disso, gramados imensos, araucárias em abundância, patos, galinhas e cachorros soltos.
O chalé todo de madeira pintado de branco se apresentava com um grande deck que flutuava sobre o gramado e oferecia uma bela visão do lago que dá nome à pousada: Cabana do Lago. A cozinha ficava do lado de fora, assim como a mesa, algumas espreguiçadeiras e uma churrasqueira pequena à carvão que eu usaria duas vezes durante a estadia de quatro dias.
Aliás, a casinha tinha um nome, Love Cabin. Planejada para casais apenas, mas também perfeita para pequenas famílias como a nossa, era, na verdade, uma suíte bem espaçosa e clara devido às grandes janelas e à porta antiga enorme que era usada para acessá-la. Devido ao frio serrano nos meses de inverno, tinha uma bela lareira de metal em um dos cantos e tinha um lindo assoalho de madeira clara, da mesma cor das paredes.
Neste ambiente passamos a virada de ano sem TV, praticamente sem internet e fazendo todas as nossas refeições no chalé, sem grandes sofisticações, mas com todo o aconchego do lugar que nos abraçava a cada manhã com o sol refletindo no lago e com os bichos que circulavam pelos gramados, especialmente as galinhas, galos e a Panda, uma labrador de um outro hóspede que nos adotou por todos aqueles dias.
João a toda hora fugia correndo pelo gramado para ir até a área onde ficavam a maioria das aves da Pousada e eu ou a Josi tínhamos que sair correndo para pega-lo, ou senão poderíamos perdê-lo de vista sem dificuldades. A amplitude do lugar nos fez desejar construir ainda mais o nosso próprio rancho e, quem sabe, ter sobre ele um chalezinho simples como aquele em que ficamos, com as galinhas aqui e ali ciscando e comendo graminhas e os cachorros soltos se esfregando pelo gramado orvalhado da manhã.
Andamos também pela estrada rodeada de mata de araucárias e hortênsias, colhemos morangos, fomos na cachoeira e respiramos fundo o ar que só existe em altitudes como aquela. A pureza de tudo que a luz tocava, a simplicidade e um desejo constante de estar ali para sempre, longe de multidões e das complicações da vida cotidiana foram coisas presentes no nosso imaginário, nos nossos silêncios de contemplação, ainda que raros, mas que foram firmemente fixados dentro de nós, para relembrarmos nos momentos em que a algazarra do mundo for insuportável, mas inescapável.
A beleza da utopia é a sua existência. O sonho bucólico que nos une e que traz tanta alegria a nós e ao nosso filho é possível, talvez não exatamente como descreve minha memória ou às coisas que eu vivi ali, mas próximo disso. Dentro das nossas possibilidades, sim, eu acredito que possamos experimentar aquelas sensações com muito mais frequência e neste ano novo, onde tudo será realmente novo, teremos a chance de construir isto.
Josi, obstinada como só ela, colheu para mim pouco mais de 20 mudas de araucárias que ela achou pela pousada e nas nossas andanças pelas estradas rurais. A explicação deste ato de amor é a minha paixão pela árvore deste criança e que, agora, poderemos ter em nosso próprio rancho. No mesmo dia em que chegamos em casa, no último domingo, levamos as mudas maiores para o plantio no rancho, enquanto que as menores estão sendo cuidadas em casa até ficarem mais fortes para enfrentar o campo aberto. Uma parte do sonho, ter araucárias em casa, já é realidade.
O resto construiremos com trabalho, amor e coragem.
Um Feliz 2022 para todos que mantém viva a utopia em suas vidas.