Noel e músicas
natalinas
1. No Natal do ano passado, 2021, duas coisas me chamaram a atenção. Como não li nem ouvi nada a respeito, resolvi comentá-las, mesmo admitindo estar a fazê-lo com algum atraso.
Estando em janeiro, as atenções já estão todas voltadas para o Natal de 2022; e, queira Deus, sem virus, sem máscaras, sem vacinas que tanta polêmica causam. E mais: sem o torturante distanciamento que nos tirou o aperto de mão, o abraço e o direito de beijar quem a gente ama ou simplesmente gosta.
2. A primeira coisa: chamou-me a atenção a, não diria completa, ausência das canções natalinas no rádio e na televisão, como ocorria antigamente. "Noite Feliz" e "Jingle Bells" foram as únicas músicas que andei ouvindo nos dias que atecederam à festa do nascimento do menino Deus.
"Noite Feliz" - falemos sobre essa canção - abre praticamente os festejos natalinos. Quando os presépios começam a ser armados, ela é cantada, no mundo todo, por vozes célebres e de gente humilde. Já surpreendi motoristas de táxis e porteiros de prédios assobiando essa santa canção. Gosto de ouvi-la na voz de Bing Crosby.
3. "Noite Feliz", um poema do padre Josephf Mohr, foi musicado pelo maestro Franz Xaver Gruber, em 1818, na Áustria e não na Alemanha. Chegou ao Brasil com o talentoso compositor, frade franciscano, alemão naturalizado brasileiro, Frei Pedro Sinzig OFM. Desde 2011, é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Não inventei nada: está tudo no Google.
Aluno de seminários seráficos, todos dirigidos por frades alemães, aprendi a cantar "Noite Feliz" em alemão antes de cantá-lo em português. "Stille Nacht, Heilige Nacht". Que cabotino, direis!
4. Não sei se o meu leitor também constatou que, no tempo do Natal passado, poucas músicas natalinas foram cantadas e tocadas. Eu senti falta. Venho de natais em que canções natalinas eram tocadas, uma depois da outra, nos dias que antecediam a grande Noite do Cristianismo. Pode-se argumentar que temos poucos compositores de músicas natalinas; compositores como Assis Valente que nos deixou "Boas Festas" ou "Aconteceu". Estão lembrados? - "Papai Noel/Vê se voce tem/A felicidade/ Pra você me dar".
5. Se não temos boas músicas natalinas porque não temos bons compositores, como umAssis Valente e outros, por que não cantar ou tocar músicas natalinas vindas do estrangeiro como "Adeste Fidelis", "Jingle Bells", "White Christmas" e "Então é Natal", de John Lennon e Yoko Ono, no Brasil magnificamente interpretada pela cantora Simone.
6. Não há como esquecer os belos jingles, como o da VARIG: "Estrela matutina num céu azul/ Iluminando de Norte a Sul/ Mensagem de amor e paz/ Nasceu Jesus/ Chegou o Natal/ Papai Noel voando a jato pelo céu/ Trazendo um Natal de felicidade/E um Ano Novo cheio de prosperidade/ Varig,Varig,Varig". A VARIG não existe mais (saudades!) mas seu jingle natalino ficou. Pois é, lamento, nestas mal traçadas, que não se tenha cantado mais no Natal, a chegada do Menino.
7. A segunda coisa: os Papais Noeis que circularam pelos Shoppings de Salvador. Me aproximei de um. Achei-o diferente. Modificara-lhe a figura original o virus e seus filhotes que traiçoeiramente andam por aí fazendo o mal. Com máscaras, artificiais, cautelosos, distanciados, proibidos de dar o abraço de Boas Festas na garotada que ainda acredita que ele existe.
8. Papai Noel, para os que dizem nele não acreditar, um dia, quem sabe, acreditaram. Este cronista, que em algum momento de sua vida acreditou na sua existência e que ele morava na Lapônia, sonhava com sua vinda ao Brasil; à minha casa. Aconteceu que, na manhã do dia de Natal, a manhã dos presentes, observava que o bom velhinho esquecera do meu endereço. Nada na minha janelinha; nos meus sapatinhos, nada...
9. Por causa disso, nunca o xinguei. Havia em mim a certeza de que outros precisavam mais do que eu. Agora, no ocaso da vida, depois de muitos natais, faço tudo para continuar acreditando no velho Nicolau, apelidado de Papai Noel. É gratificante vê-lo com olhos de menino. Não pode existir coisa melhor...