ANANINDEUA, CELEIRO CULTURAL

ANANINDEUA, CELEIRO CULTURAL

Esse tipo de ufanismo costuma ser tolice, por ignorar o que se passa em outros centros... "somos os maiores, e pronto"! Porém, a realidade é que o bairro Cidade Nova -- ligado a Belém nos anos 80, de forma indefinida -- tinha vários artistas de gabarito nos anos 90 (agora já integrado a Ananindeua) como Ivan Cardoso e Pedrinho Cavalléro e um grande número de escritores, boa parte lançando obras devido ao esforço de Lucinerges Couto, ação retomada, entre 2006 e 2008, pelo jornalista Rui Santana, produtor de antologia com 6 poetas locais, "A Poesia Contemporânea em Ananindeua - a Poesia na Amazônia", fato creio eu inédito no município.

Lucinerges -- que nunca publicou seus escritos -- é um marco da luta para que o município tivesse atividade cultural. O multiartista Jorge Granhen, que muito colaborou nessa área, abriu espaços em seu Jornal de Ananindeua, recém-criado, para poetas e demais autores, fazendo circular a produção literária daqueles tempos. O colégio Madre Celeste, na C.N. 8, era realmente um celeiro de produção cultural, com exposições, palestras e, adiante, uma revista interna. Foi lá a primeira reunião efetiva a reunir artistas de todas as áreas num "tsunami" cultural que iria alavancar ações destinadas a divulgar artistas e suas obras, creio que 1991.

Tudo "fogo de palha"... os objetivos da PMA não saíram do papel e o tal "secretário" de Cultura, por questões políticas, viraria Secretário do DEMUTRAN local, findando de forma bisonha as expectativas e esperanças de artistas e escritores, em 1992. Mesmo assim, não custa rememorar fatos desse distante Passado, no qual nossos autores íam para Belém lançar suas obras ou, enquanto músicos, se apresentarem. Hoje, as 6 ou 9 Cidades Novas têm vida própria, o bairro PAAR perdeu a pecha inicial de perigoso, integrou-se à região e segue "independente". Em 1987 Lucinerges Couto iria de porta em porta convocando autores que conhecia (e estes convidavam outros) para formar o "Grupo Amigos Especiais de Ananindeua", com reunião aos sábados na biblioteca municipal (sob a responsabilidade de Raulino Silva), ao lado da feirinha, para leitura de seus escritos e incentivo geral.

O grupo cresceu até chegar aos 10, 11 membros... o poeta Felipe Sil lançaria em 1989 seu livro na cidade, em noite de autógrafos com a presença do prefeito Fernando Correa, com registro do fotógrafo Rufino Almeida. Outro poeta, Eron Carvalho, lançou "Dispersos" um pouco antes, mas já integrado ao Grupo. Um certo "Baiano" (Francisco de tal) também produziu alentada obra sobre sua vivência na Amazônia, numa empresa que explorava petróleo na mata. Eu estava em coletâneas em diversos Estados... minha "vizinha" no bairro, Eliete Fabiano lançou em 1990 seu livros de memórias da infância e juventude, o "De Belém a Nova Lima".

Isolado na Cidade Nova, o cantor Juscelino Ramos mantinha shows populares nas praças, no projeto "Espaço Aberto para o seu Talento e, como extensão, em nov./1987, um festival em várias fases registrado por jornal do bairro via O Liberal, além do "Uma Canção para a Paz", que não sei se chegou a concretizar ou se seria dele. Como se vê, havia intensa atividade cultural no bairro, quase sempre em bares, por falta de espaço mais adequado. Salvo engano, o jornalista Orlando Henriques -- responsável pelo "Jornal CIDADE NOVA" -- lançaria livro por volta de 1993/94 no espaço do Rotary Clube, no final da C.N. 8.

Em 1991 Lucinerges Couto oficializou o grupo, agora como ALA-A - Assoc. de Letras e Artes de Ananindeua... por ironia do Destino, o tempo gasto para isso e a quantidade de reuniões findaram por desanimar o grupo, que se dispersou. Lucinerges iria criar, lá pros lados de Icoaraci, a APIL, depois APLI - Academia Paraense Literária do Interior, de pouco efeito e duração, até onde sei. LUCINERGES COUTO & JORGE GRANHEN: dois grandes nomes da seara cultural ananin, injustiçados pela memória dos locais. Mereciam ter seu nome ao menos na saleta da merenda de uma Escolinha da cidade, mas até isso lhes vem sendo negado... até quando ?! Há tempo para corrigir tanta injustiça ! Pois que alguém faça isso !

"NATO" AZEVEDO (em 4/jan. 2022, 6hs)