Depende de mim
Depende de mim
Autor: Andreia Caires
Eu não sei vocês, mas 2021 deu um nó na minha cabeça. Escrevi pouco e li menos ainda.
Sabe aquele ano travado? Porque 2020 foi uma "caca" não foi? Depois, parecia que o medo continuou paralisando as pessoas e, por mais que eu bancasse a Mulher-Maravilha, eu só queria que 2021 terminasse e, ufa! Terminou! Mas "deixou sequelas".
Ainda assim, fui agraciada com oportunidades na escrita. Deus, na sua infinita bondade e paciência comigo, pegou-me no colo diversas vezes até o meu objetivo, porque se dependesse de mim... Eu não daria um passo.
Como eu não escrevia, passei muito tempo comendo. Imagine, desde 2020 comendo sem parar? Massas, doces... E eu até que caminhava bastante para aliviar a culpa. Certa vez uma amiga quando me viu notou que eu não estava bem. Dei aquele sorriso de lado, como que disfarçando e disse: “É culpa da pandemia" que nos faz ficar mais tempo em casa e comer sem parar. Mas ela não estava falando dos meus quilinhos a mais e sim do meu olhar de tristeza, qual não combinava comigo. E eu, amando a ideia de ter um culpado e cúmplice para as minhas próprias fraquezas aproveitei a situação.
Espera aí, cadê a escrita? Desistiu? Porque milhares de pessoas na quarentena se descobriram escritores. Alguns juravam estar encarnando Machado de Assis. Uma loucura a quantidade de novos escritores que apareceram nos últimos 2 anos mas, comigo foi diferente. A pandemia não me deixou escrever absolutamente nada e acabei isolando-me ainda mais. Fui fazer artesanato e claro, comida. Experimentava receitas diversas acompanhando os programas culinários da TV. Eu estava quase virando uma Palmirinha, enquanto o meu marido escutava Raul Seixas “O dia em que a Terra parou”.
Cadê aquela pessoa comprometida com seus dons? que colocava no papel todos os seus mais profundos “Eus"? Que lutava constantemente contra os seus monstros internos? Que enfrentava todas as críticas desconstrutivas de sua carreira literária e, que transformava da sua rotina sempre uma novidade? cadê aquela mente de ideias borbulhantes, mirabolantes e malucas? Sumiu? o Covid comeu?
Ao olhar no espelho deparei-me com uma mulher não tão atraente, descuidada com os cabelos, as unhas, acima do peso, inchada, com o olhar triste e cara de preguiça. Levei um susto ao constatar que àquela era eu.
Permaneci isolada em 2020, saindo raras vezes de casa e nem assim consegui fazer as pazes com a escrita repetindo em 2021 a mesma situação de ensaiar escrever um livro, mas me faltava disciplina, foco e principalmente me faltava fazer as pazes com meus próprios dons. E como eu faria isso se eu não parava de comer e assistir MasterChef?
Um Belo dia ao acordar deparei-me com um texto no meu notebook endereçada propositalmente a mim que dizia : “Depende de mim” de Charles Chaplin.
"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio
marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo... ou agradecer às águas por
lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro... ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde... ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria.... ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar.... ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com as tarefas da casa... ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.
Posso lamentar decepções com amigos... ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim."
É isso! Tudo depende só de mim! Significa que preciso reagir e sair dessa zona de conforto ou ela irá me engolir. Chega de contar os dias como um presidiário para o fim de sua pena. O mundo não gira ao redor do meu umbigo e, se eu parar ele continua girando. O tempo começou então a me ensinar que o que menos conta sou eu e minhas vontades por isso eu preciso cuidar da minha Felicidade e,“felicidade” é uma palavra muito pessoal. Para a minha mãe por exemplo, Felicidade é estar na sua casinha, em paz, cuidando das suas plantinhas mas, e para mim o que é Felicidade? acho que até para nos isolar temos de ter sabedoria.
Muitas pessoas que ficaram em casa durante a pandemia conseguiram absorver 100% experiências e conseguem olhar com mais carinho para todos os cantos de sua casa e principalmente para dentro de si mesmo. Entendem que não somos obrigados a estar felizes o tempo todo e isso não existe. Entendem que felicidade se faz com momentos difíceis também e se resume em não nos abandonar como eu estava me abandonando. Depois de ler esse texto de Chaplin que até hoje não encontrei quem me enviou, comecei a analisar o quanto minha casa encheria de alegria se eu voltasse a fazer o que realmente eu vim fazer neste mundo que é escrever. Contei a meu marido que voltaria a escrever e ele me apoiou bastante e hoje coloquei uma plantinha próxima ao meu notebook para que olhando para ela eu não esqueça jamais da minha responsabilidade como ser humano aqui neste mundo, pois saberei que preciso regá-la sempre para ela continuar existindo. É a minha felicidade e ela depende exclusivamente de mim.
Sigo escrevendo e sigam-me os bons.