A época é de porquês...

Como o ano está no início de sua existência, assim como na infância, naquele período de dois a quatro anos, é tempo de questionamentos.

Esse exercício requer muito, muito mais esforço para aqueles, que não conservaram aquela criança, que construía sua própria identidade e, para tal, além de descobrir-se, ter noção do próprio “eu”, questionava sobre as coisas que conseguia fazer, que via ou ouvia.

O exercício para adultos não deixa de ser, também, característica, de construção de identidade, agora com limites muito mais abrangentes e, aqui, parece oportuno: o quanto da importância de não enterrarmos aquela criança que buscava respostas, com seus permanentes questionamentos; e recordar o mito da esfinge que devorava àquele que não decifrasse seu enigma.

Semelhante a esse enigma da esfinge de Tebas, existem enigmas primordiais que a criança, ainda viva em nós, propõe: “quem sou, de onde vim, por que vivo, para onde vou?

Somente para ilustrar o quanto esse trabalho não nos causa danos e muito menos nos leva a algum estado anormal, como loucura, isolamento social... registre-se dois exemplos públicos: a canção “O que é, o que é” de autoria de Gonzaguinha e o programa da TV Cultura, “Provoca” apresentado por Marcelo Tas.

Ambos no seu trabalho, certamente por terem conservado e integrado a criança que foram, questionam “o que é a vida”.

As respostas são diversas, pois no “Provoca” a pergunta é feita a cada convidado. A cada juiz uma sentença, a cada convidado do programa, uma resposta.

Na canção, as respostas, limitadas pelos versos da letra, têm sua diversidade reduzida, mas nem por isso se fez reduzida sua extensão.

Alguns versos extraídos que, não somente foram respostas semelhantes a de alguns convidados no programa da TV Cultura mas, também. porque julgamos versos pertinentes ao objetivo da crônica - difícil, algum “prego ser batido, sem estopa”:

“cantar, e cantar, e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”; “ela é a batida de um coração, ela é uma doce ilusão”; “ela é maravilha ou é sofrimento”? ela é alegria ou lamento”? “é uma gota, é um tempo, que nem dá um segundo”; “é o sopro do criador numa atitude repleta de amor”.

Após, acreditar ter justificado a importância de conservar a criança, o quanto os questionamentos nos ajudam a construir identidades e da época oportuna aos questionamentos, registros, a seguir, de questionamentos bem próprios de início de ano eleitoral.

Como podemos nos ter mobilizado para ir às ruas, pedir ditaduras e doar ouro para o bem do Brasil? Como podemos nos ter mobilizado para nos opor à intervenção pedida por meio da luta armada? Como podemos ter levado ao segundo turno Lula e Collor e ter eleito este último? Como podemos ter tido o menos ruim governo do período democrático, o de Itamar Franco, graças ao “impeachment” de Collor? Como podemos reeleger FHC? Como podemos reeleger Lula? Pior do que isso eleger e reeleger Dilma? Como pudemos permitir o surgimento, o fortalecimento e o gigantismo do “lulismo”. Como pudemos permitir que essa mesma política rasteira e minúscula conduzisse ao segundo turno as duas piores alternativas, “lulismo x Bolsonaro?

Como: com todo esse histórico de prática de política com “p” minúsculo; com todo nosso histórico de escolhas eleitorais que fortaleceram esse cenário corporativista, patrimonialista, corrupto - nada mais esperado de que incompetente e ineficaz; e com todo esse tempo e escolhas não nos tocamos, nos mancamos e, mais uma vez, aceitaremos chegar, ao segundo turno dessas eleições de 2022, com o mesmo trágico cenário de 2018?

Como podemos trovejar aos quatro cantos, que julgamos um dos grandes males à nação brasileira a corrupção e, apesar de sabermos quais as três siglas partidárias que mais participaram dos assaltos aos cofres públicos, elas continuam por nós escolhidas?

Assim como a escolha dos modelos de crescimento e de formação dos novos impérios resultaram nesse cenário de tragédias ambientais, bélicas, migratórias, alimentares e sociais, nossas escolhas eleitorais, nossa participação como massa de manobra, nos levaram a esse cenário nacional minúsculo, muito mais para cenário de encenação de terror.

Nossas escolhas passadas, nossa incapacidade de nos unirmos e nos organizarmos em trono de uma agenda de reformas para desenvolvimento nacional, construída independentemente dessa estrutura partidária falida, foram as construtoras desse cenário nacional atual.

Nada como os ensinamentos contidos em ditos populares que atravessaram muitas gerações: “quem semeia vento colhe tempestade”; “diga-me com quem andas, que te direi quem és”; “a colheita depende da semente, da terra, do tempo e do trabalho”.

Adeus eleitor velho, feliz eleitor novo. Adeus mesmice nas escolhas, feliz escolha nova.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 03/01/2022
Reeditado em 03/01/2022
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