JUSTIÇA E VOTO.
'O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".
Martin Luther King
Respeito enormemente todos que se entregaram e mesmo deram suas vidas pelas liberdades públicas, como Luther King, Gandhi, Mandela e tantos outros, mas são números minoritários. E só respeito quem respeita direitos fundamentais.
Não seria demasia dizer que Cristo foi o maior referencial de respeito a essas liberdades. A raiz de todos os males, a corrupção e seus consectários, decorrem do egoísmo, antítese da doutrina do Cristo.
Mas ousando contrariar a máxima de Luther King, em tese, não seria o silêncio dos bons o responsável pelo estado de coisas em que vivemos, creio. Muitos bons gritaram sem serem ouvidos, ainda ouve-se o eco de seus gritos ensurdecedores. Mudaram um pouco o anterior desenho, mas não tanto como se queria. Prevaleceram e prevalecem, pelo menos no Brasil, o caciquismo político.
O silêncio dos bons não é o combustível para a trapaça, a artimanha, mas o engenho dos maus.
Não se mudam hábitos com bravatas, mas com atitudes e protagonização, necessárias e eficazes.
Enunciar as lacunas da lei, a pletora recursal da qual se valem bons advogados para sufragar a impunidade, e toda a enciclopédia "legal" que possibilita a continuação da ausência de punição, seria alongado, embora fácil de listar. Basta citar duas ignomínias; a elástica presunção de inocência constitucional, alvará para abrir portas temporalmente aos denunciados em geral, ÚNICA NO MUNDO, e aos que mais mal fizeram à nação, e continuam, livres das penas por engenheiros cavalgando heresias jurídicas nunca vistas, tudo associado ao universo recursal e à progressão da pena, e suas benesses, só para falar de um compartimento do direito.
Se grande parte que legisla está ameaçada pelas malhas da lei, qual a razão de execerbá-las? Muito se fala em caos, mas poucos podem avaliar o “caos moral” a que se chegou, com o triunfo do direito penal mínimo. ESTÁ VISÍVEL MESMO PARA NÃO CONHECEDORES. Tudo é possível, a ausência de punição fez prosélitos onde e por quem deveria ser normatizada e por aqueles que aplicam a punição.
A maneira de gritar contra tudo isso se dá nas democracias através do voto. O voto está captado pelo aparelhamento, comissionamento de cargos que não se minimiza e formam exércitos que reconduzem sempre os mesmos. Esse estado de coisas caminha na estrada que vai desde o menor interesse ao maior, das bolsas aos banqueiros, passando por empresários, empreiteiros, fornecedores e bancadas congressuais corporativas. São guetos formados de soma milionária de votos, difícil de suplantar, por isso os mesmos nomes estão na cena faz tempo;são dinastias sem títulos, enraizadas por votos. E nada muda, nem com promessas ou intenções. Falácias, como se repete agora a mesma cena de sempre, binômio indiviso do que seja igual ou pior.
O grito haveria de ser nas urnas, mas os representantes gostam da força do silêncio do que se beneficiam após a posse.
Se calam quanto à corrupção, praticam-na. Elas, as urnas, estão silenciadas pela organicidade do mal, essa “entourage” lacrada do maléfico tem se calado, mostram as urnas, cooptadas por todos os sistemas organizados. Há muitos favorecidos, exércitos que não querem mudar diante do que obtiveram. O que nos resta além do voto?
Pergunto. Qual dentre os bons poderia se candidatar e enfrentar o enorme e gigantesco universo político aparelhado, onde não mais existe nem mesmo oposição? E a única, não representativa, pois não incorpora partido político, insinuam sempre amordaçar, com o controle da liberdade de expressão em seus legítimos limites, contrariamente ao que consagra a constituição, a imprensa.