PEQUENAS CRONICAS DO COTIDIANO - (DESTAS ANDANÇAS)

PEQUENAS CRÔNICAS DO COTIDIANO

(DESTAS ANDANÇAS)

Manhã de domingo, 26/12/2021.

Saímos, minha esposa e eu, para uma caminhada no parque ambiental de nosso bairro.

Apesar do calor, lufadas de vento refrescavam de quando em quando.

Tudo muito bonito no parque a começar pelos ares de alegria de pessoas que sequer conhecíamos.

No retorno, optamos por um caminho pelo qual, inevitavelmente , passaríamos pelo que sobrara da casa onde cresci.

Duas pereiras , apinhadas de frutos nas copadas, ainda estavam por lá resistindo ao tempo.

Centenárias e cheias de histórias.

O cedrinho, dantes inclinado em arco sobre o portão de entrada, podado agora, lembra um corte moderno de cabelos femininos.

É tudo o que sobrou do "tudo" que vivi naquele espaço.

No silêncio de meus passos, fui recriando os almoços de domingos de dantes, debaixo do sombreado das quase uma dezena de pereiras perfiladas.

Tudo tão simples e tão nobre ao mesmo tempo.

Os risos, as falas mansas, os assados vindos da fornalha lá do fundo quintal...

Uns tios, uns amigos, uns compadres, sempre ladeando a mesa farta de dias inesquecíveis.

Uma cigarra chiando preguiçosa, um sabiá, um galo melancólico pelas cercanias.

Tudo tão bucólico ! Tudo tão acolhedor...Havia uma ternura impar naquela singeleza que nunca soube explicar, apenas arquivei nas gavetas de armários da minha casa da alma.

Papai servindo refrigerantes "gelados" em água de poço, a melancia vinda do mesmo destino.

Quem dera ! Uma geladeira. Nem energia elétrica havia por aquelas bandas.

Em ocasiões especiais, algumas barras de gelo envoltas em serragem,eram solenemente descarregadas de um modesto caminhão de entrega.

Aí, refrigerantes, cervejas e melancias eram sorvidas geladas no verdadeiro sentido da palavra.

De repente me vem na boca o gosto das laranjadas, das gasosas "Cini", tão esperadas - uma vez que eram sorvidas somente em ocasiões especiais- e aquele meu jeito matuto de gostar de coisas que me são hoje tão banais.

Os gestos meigos e delicados de tia Lila, elogiando os temperos da casa.O sorriso doce de tio Jéquinha esperando pelo pratinho de doce de abóbora , "tijolinhos", aqueles ! Que estavam sempre reservados à sua espera. Ele amava doces !

Meus primos e eu, em incursões à ilha dos marrecos às margens do riacho e o retorno com a bacia repleta de amoras pretas.

Nossas bocas, "abatonzadas" em lilás vibrante dos frutos, provocando risos ao redor da mesa...

Ela, a esposa, que não vivera aqueles momentos, prosseguia calada sequer imaginando o turbilhão de lembranças que passavam pela minha cabeça.

Dobramos a esquina e na tórrida estiagem em que estamos vivendo, duas açucenas brancas remanescentes do que fora um dia o jardim da casa de tia Flora, pareciam acenar em conivência com minhas reminiscências.

Em casa, um copo geladíssimo de refrigerante de limão, matou a minha sede, selou minhas lembranças.

E a vida prossegue.

"Da janela eu vejo o tempo passar /// As pessoas sempre passam por lá.

Hoje os dias parecem ser...Dias iguais."

Já dizia uma antiga canção de Leno e Lilian.

 

IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 02/01/2022
Código do texto: T7420270
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