Último dia do ano
Caramba, que ano difícil. A gente fica meio reflexivo quando um ano finda e faz parte do encerramento de um ciclo para o início de outro. Fazer um balanço do que foi feito, sentido, aprendido nesse tempo e saber o que deve ser levado para o novo ano e o que pode ser jogado fora.
Revisitando o que eu escrevi há um ano, eu não estipulei metas, porque 2020 já tinha me mostrado que eu não consigo cumprir nada, porque a vida não acontece como queremos. Lembro de ter escrito que eu não vivi muito em 2020, apenas sobrevivi – o que faz todo sentido, já que estávamos em uma pandemia, sem saber como seguir em frente. Eu escrevi que eu lutei muito para não afogar em meio as incertezas, porque eu vivi dias desafiadores. É meio irônico ler que eu realmente acreditava que 2021 seria um ano melhor, porque eu queria viver. Seria um ano de mudanças: eu ia mudar de local de trabalho e estava nervosa e otimista, mesmo com apreensão por como seria deixar pessoas que me ensinaram muito; ia começar uma nova jornada, em que seguiria o meu sonho; queria continuar descobrindo quem eu era; talvez deixar o medo e me apaixonar; realizar o sonho de ter o meu próprio cantinho.
Bem, eu não preciso dizer que não saiu nada como o esperado, né? Esse ano foi difícil de uma forma que eu não sei explicar. Se ano passado foi um ano difícil dentro de mim, esse ano me pegou, revirou do avesso e me deixou tonta tateando como viver.
Eu escrevi muito, mas em muitos momentos eu não consegui expressar em palavras como eu me sentia. Eu me senti tão perdida, exausta, preterida esse ano. Eu sofri e me lasquei como em nenhum outro momento. Eu relutei em deixar sentimentos e pessoas irem e me fechei para sentimentos novos por medo de me magoar. Eu fui covarde em tantos momentos. Eu não fui forte como achei que era. Eu descobri que sou uma fraude: todo mundo acha que eu sou forte e por isso aguento as pancadas da vida, mas a verdade é que não, eu não aguento. Eu caí tantas vezes que me fez querer não levantar mais e ficar chão.
Contudo, eu acho que nunca fui tão eu. Eu não consegui manter a minha murada intacta, ela se rachou e eu pude demonstrar mais quem eu sou, com todo o meu caos e intensidade.
Eu desejei saúde e vacina para todos. Bem, eu tomei as duas doses de vacina e tive saúde quase o ano todo. Mas aí eu fui acometida pela covid. Essa doença me pegou quando não esperava e mudou minha perspectiva de vida. Ainda estou em um processo de cura, mas eu só agradeço por estar aqui, viva e mais ou menos bem – eu estou com sintomas de gripe (que Deus me ajude!).
Lembro que escrevi que havia em mim uma tristeza que eu não sabia de onde vinha. A verdade é que eu sou uma pessoa melancólica e me sentia mal por me sentir assim o tempo todo. Mas aí eu percebi que é da minha natureza ser assim e abracei isso como parte essencial de mim. Eu acho que é de todo poeta ser um pouco solitário. Porém, eu sei que posso contar com pessoas verdadeiras que estiveram ao meu lado e espero contar em 2022.
2021 foi um ano em que conheci e perdi as melhores pessoas. Foi um ano em que perdi muito, mas ganhei também: mais resiliência, amigos novos, confiança de quem sou, orgulho de meus escritos, leituras cativantes. Foi um ano que vi pessoas indo embora que achei que ficariam comigo para sempre e tive que aprender a lidar com as ausências e me manter inteira em cada uma dessas partidas. Foi um ano que fui decepcionada por pessoas que gosto, mas sei que também decepcionei e tudo bem, é normal. Foi um ano de pequenas vitórias e grandes derrotas, mas a guerra foi vencida por um armistício – me vi no fundo do poço tantas vezes que eu não me assusto mais. Foi um ano de muitas, mais muitas frustrações, de perdas que eu não achei que superaria, mas também foi um ano que corri atrás dos meus sonhos e aprendi a ser feliz nas coisas simples. Foi um ano que deixei de acreditar na evolução do meu país, na humanidade como um todo, mas passei acreditar mais na minha própria evolução e tenho me tornado melhor e assim, mesmo que de forma pequena, tenho feito o mundo um lugar melhor. Foi um ano que chorei minhas dores e dores que não eram minhas – esse é uma das minhas melhores qualidades, ser leal e uma boa ouvinte e conselheira – foi o ano em que ouvi desabafos e me permiti também desabafar e desmoronar sem me sentir fraca por isso. Foi um ano muito cansativo, de muitas lutas e pouco momentos de paz. Foi um ano que me senti perdida tantas vezes, mas aguentei firme. Foi um ano que aprendi a seguir em frente mesmo quando queria me prender ao passado – aprendi que não sou mais a mesma menina que eu era, mas ela ainda habita em mim, auxiliando a mulher que me tornei. Enfim... este ano eu termino dizendo “adeus” para algumas pessoas e para algumas histórias e “seja bem-vindo” novas aventuras. É, foi um ano difícil, mas também foi um ano bom, porém, um dos piores anos da minha vida. Mas o importante é que o ano está terminando e eu continuo de pé e de cabeça erguida.
Para 2022, não metas, desejos ou falsas esperanças, mas a certeza de que posso contar comigo mesma.
Adeus, 2021!