UM MILHÃO DE AMIGOS?
De saída, como eu iria catalogar toda essa gente? Já imaginaram anotar cada um, com nome e sobrenome? Quanto tempo eu levaria para acabar o registro desse número extravagante?
E quando chegasse o meu aniversário? Onde caberiam todos eles? Quanto eu gastaria em comida e bebida para atender a todos? Onde eu guardaria os presentes que eles me dessem? E nos aniversários deles? Já pensaram se quinhentos fizessem anos em um só mês? Certamente eu iria à falência.
E se duzentos deles morressem no mesmo dia? Como eu faria para estar presente a todos os enterros? Amigo que é amigo não manda condolências à família por telegrama e ainda se o fizesse, onde arranjaria tempo para expedir as mensagens?
Imaginem época de eleições. Certamente o milhão de amigos e mais eu não escolheríamos os mesmos candidatos. Será que se nossas divergências fossem profundas isso poderia representar o fim de alguns milhares de laços de amizade?
E quanto à escolha do time de futebol? É evidente que as preferências por clubes diferentes para torcer poderiam minar a solidez de nossas amizades.
E quando a maioria se casasse? Continuaríamos amigos ou a constituição das novas famílias cortaria a maior parte de nossos encontros? Com a chegada de filhos, os contatos se tornariam cada vez mais espacejados, pois os laços familiares se sobreporiam às noitadas de gandaia e irresponsabilidade.
Se os casamentos se multiplicassem, teríamos muito mais de um milhão de amigos, com tudo o que se disse acima multiplicado por dois.
Na velhice, certamente passaríamos, uns pelos outros sem nos reconhecer, pela impossibilidade de
mantermos um contato mais constante entre nós.
Não, eu não quero ter um milhão de amigos. Uns poucos, com os quais eu possa trocar abobrinhas e carinho já me bastam para relembrar os “velhos tempos, belos dias...”
2020.