Os Quixotes
Tantas e tantas personagens são inacreditáveis; só gênios absolutos para lhes dar vida. O Dom Quixote é um dos maiorais, Cervantes um destes gênios absolutos.
O fato de Dom Quixote viver em uma época onde a cavalaria como ele a idealizava já não existia é brilhante. Aí o grande achado de Cervantes! Se ele colocasse o seu cavaleiro em um outro período, no passado, contemporâneo aos cavaleiros reais, o brilho se perderia, não existiria o que transcende.
A genialidade, cercada de diversos outros elementos, reside aí, nessa “descoberta do que é quase imperceptível a olho nu”.
Bom, os Quixotes, os quixotescos, sempre existiram por aí, para o bem e, principalmente para o mal, criados pelas circunstâncias.
Vamos falar de Brasil.
O Brasil não tem – de verdade – e nunca teve esquerda (politicamente falando), exceto os gatos pingados de sempre, permeando todas as épocas. Nas primeiras décadas do século passado houve sim uma esquerda incipiente, originada a partir do então sonho (que depois viraria pesadelo) soviético. Jorge Amado dá uma ideia geral dessa esquerda nascente em “Seara Vermelha”, “Luz no fim do túnel” e “Subterrâneos da liberdade”; Graciliano Ramos é prova viva (está vivo! Os grandes gênios são imortais). Com o tempo, o Getulismo, a Segunda Guerra e tal tudo isso passou. O brasileiro jamais foi de fanatismos de direita ou de esquerda, quer apenas levar sua vida em paz. Essas ideologias de Direita e Esquerda por aqui não florescem – tão parecidas, ambas querem apenas o poder; quando se instala em um determinado país, seja “a esquerda radical ou a direita fascista”, esse país se torna uma ditadura sangrenta, é só isso que acontece, para o povo não faz diferença.
A tão falada resistência armada à ditadura foram atos isolados de alguns, poucos, sonhadores; idealistas alguns, por interesses mesquinhos outros. O brasileiro – a grande maioria – médio apoiava ou não a ditadura, mas não pegaria em armas. Somente saiu às ruas já no final, quando tudo navegava em águas “bemmm” calmas. Ouvi muita gente responder quando perguntado “se ia as ruas pelas Diretas já” responder “nada, vou ver os artistas de graça”.
Toda violência que houve, quando houve, foi desnecessária, reação excessiva.
Os detentores do poder – na falta destes – cria inimigos imaginários pra se manter eternamente no poder. É isso, apenas Quixote e seus rebanhos de carneiros, seus moinhos de ventos.