Mosquito da madrugada...
Poucas coisas me tiram o sono.
Sou do tipo bom de cama: deita e dorme.
Se fosse de outro tipo, diria, portanto, sem assanhamento.
Na verdade, o que perturba a maioria a dormir é o que vai pela cabeça. No meu caso, isso já aconteceu às vezes, porém, o que costumeiramente me faz acordar de madrugada é o zumbido de um pernilongo.
Aquilo fica amplificado no modo turbina de avião.
Não sou de questionar a obra do Criador e longe de mim vir a ser um herege e purgar no fogo do inferno, mas a criação dessas entidades poderia ser reestudada.
E o zumbido? Tudo bem tirar nosso sangue e inocular parasitas, até conviveria com isso, mas tirar o sono convenhamos: é demais!
Fico pensando no Criador criando e pensando no pernilongo. Deus estaria lá, com suas barbas longas anotando em um pergaminho:
- Vou criar um bichinho barulhento que viverá do sangue alheio e da seiva das plantas!
Seria o zumbido para espantar alguma coisa? Dizem que é para que a fêmea atraia o macho. Algo tipo sirene do acasalamento. Mas, Senhor, não haveria outro meio? E eu mesmo respondo: se outro meio fosse melhor, Deus que é todo perfeição não o teria criado?
No equilíbrio dessa perfeição, fico noites adentro, com aquelas raquetes ridículas em punho tentando acertar e, assim que consigo e me deito, vem outra. Mato. Depois, outra e quando vejo vem o dia raiando.
Seria Deus um sádico? A figura bizarra de um humano acertando pernilongos com raquetes coloridas é mesmo hilário. Minhas olheiras morrem de dar risada.
O pior é que isso abala meu casamento. Tenho que acender a luz e vem a bronca da minh´alma gêmea: que foi?
- Pernilongo!
Ela esperneia, tenta cobrir a cabeça, sacode os membros batendo na cama. Ao fim, sábia, pega outra raquete e me ajuda a caçar os monstros. Isso sim é um casamento perfeito!