MEDO QUE DÁ MEDO

Falar do medo dá medo.

Vasculhar certas fatias das nossas emoções

sem a devida autorização prévia exige coragem

e certa dose de loucura.

Afinal, vamos revirar escombros que mantém o sangue circulando

e ainda deixam escapulir suores pelos seus poros.

Muitos dos meus medos são notívagos,

dão as caras apenas nos sonhos. Ou melhor, nos pesadelos.

E fazem o diabo nessas encenações, por vezes bizarras e até cruéis.

O alívio que dá ao acordar daqueles infernos chega perto do gozo.

O tempo vai desarmando alguns medos que outrora

faziam o chão tremer e quase a casa cair.

E quando pensamos que nos livramos deles de vez, pasmem.

Lá virão outros medos, novinhos em folha,

prontos pra bagunçar o coreto de novo.

Daí constatamos quanto somos reféns deles

e da sua fértil imaginação pra comporem novos enredos

e roteiros, mesclando personagem que jugávamos

aposentados de vez, banidos de vez.

Acredito que meus medos vão perturbar

até o último suspiro, quem sabe até depois dele,

estreando também na próxima encarnação,

a ser parida com seu devido acervo medal

(acho que inventei nova palavra).

Poderia até sugerir um armistício,

negociando com eles (medos)

pra que abandonem o barco de vez

e irem azucrinar outra freguesia.

Mas penso que não darão ouvidos à minha proposta,

pois têm muito mais o que fazer, que doer,

que deixar a alma chorar.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 30/12/2021
Código do texto: T7418074
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