Pela impertinência, essa formiga está pedindo pra morrer

Final de tarde de verão e degustando sua cerveja preferida que o tornava uma 'doce pessoa', o obeso cidadão lia uma matéria na revista Seleções no seu cantinho predileto da edícula, quando sentiu, abaixo de sua axila direita, que algum bicho o visitava.

Passou a mão por dentro da camisa totalmente aberta no peito e viu cair no chão uma formiga de porte médio que correu assustada no piso brilhoso. A matéria da Seleções se referia ao comportamento dos elefantes e o sensibilizava. O que lhe causou uma pequena revolta foi a demora para voltar a encontrar a página e o parágrafo.

Concentrado na leitura, sentiu a volta da intrusa. Tirou a camisa e com ela bateu em suas costas e mais uma vez o bichinho escapuliu. Mas a paciência do concentrado leitor perdeu força. Pensou, repetindo o bordão do aluno da Escolinha do Professor Raimundo, se deveria matá-la ou não matá-la. Em razão da matéria que lia, optou por deixá-la viver.

E mais uma vez perdeu segundos preciosos em encontrar a página e o parágrafo. Santa paciência!

E a inimiga não deu trégua. Dessa vez quase no fim da coluna. Lá onde o cinto segura a calça. Deveria agir com rapidez. Ali não! E se ela resolvesse descer? Visita tem limite e não liberdade. Visita não pode entrar sem licença no quarto da casa. A cerveja lhe aconselhou a dar fim em quem não lhe permitia o fim da leitura. Se elefantes procuram lugar para morrer, essa procurava a hora.

Arma? A própria revista. Quando a dita voltou ao chão o até então paciencioso leitor não pensou duas vezes e com ira atirou a revista em sua direção. Errou. Rapidamente usou os pés para esmagá-la sem piedade e, no brusco movimento, ele é que foi beijar o chão quebrando a garrafa de cerveja praticamente cheia. A formiga mais uma vez se safou.

Para encurtar a briga, o cidadão desistiu da leitura. Como vivem e morrem elefantes não lhe interessa mais. Anda à procura de artigos relacionados ao comportamento de formigas. Principalmente no que diz respeito a gostarem de doce. E serem impertinentes.