O mundo está ao contrário... e você reparou!
Quando mal se pode respirar e alguém brinca com o seu/nosso sufoco, a vida parece não ter muito sentido. Há pouco, a morte seguia seus rituais. Se “morte matada ou morte morrida” como dizem, havia pelo menos tempo para tentar digerir essa passagem que é comum a todos. Infelizmente, a morte se faz agora presente. Presente demais. Perder mais de 5 milhões de vidas até esse momento (dezembro de 2021), fez soar o alerta de que o mundo está pelo avesso. Uma pandemia sem precedentes realçou a fugacidade da vida. O século 21 entrará para a história do homem como o pior momento da humanidade. A morte vestiu-se de banalidade. São mortes aos milhares. Não temos tempo para chorar os mortos.
Tudo isso é coisa demais. No Brasil, neste momento, ultrapassamos as 690 mil mortes por um vírus que pode ser contido a partir de protocolos básicos: isolar, usar máscaras, lavar as mãos, utilizar álcool gel, evitar aglomerações, vacina e, o mais importante: amar o próximo. Chegamos a uma encruzilhada. Estamos nos amando minimamente, a ponto de permitir que pessoas se apoderem do nosso direito inalienável à vida e à saúde. Direitos fundamentais e humanos. E quando falo sobre isso, o faço de plena consciência porque estou vendo tudo acontecer como se não valêssemos a pena. E valemos!
Se você ou aquele seu parente, amigo, vizinho ou o que for, adere ao negacionismo que homens travestidos de poder fazem questão de alardear, você perde a humanidade. Você deixa de se colocar no lugar do outro, de ter compaixão pela dor e pelo sofrimento das demais pessoas. E aí, temos que nos questionar sobre a herança que queremos deixar às gerações futuras. Que tipo de ser humano estamos sendo ao ficarmos inertes diante do desmantelo de uma Nação? Isso é ser de esquerda, de direita, de centro? Isso é ter partido? O nosso país está entrando para a história como um país do descaso, de fanfarrice, de imbecis que se impõem sem que possamos fazer nada. Se podemos aglomerar nas praias, nas casas de shows, nos shoppings, nos bares e nas ruas, por que não podemos ir à luta de direitos básicos? Isso não tem a ver com isolamento, tem a ver com inércia. Com apatia.
Li relatos no qual a pessoa descreve a agonia de quem morre por não conseguir um cilindro de oxigênio. Depois sobre os que, entubados, eram amarrados com gazes improvisadas para evitar que arrancassem o tubo. Simplesmente porque a medicação que reduzia as dores desse procedimento havia terminado. É como voltar no tempo, quando não havia anestesia e as cirurgias eram feitas em salas isoladas para que os gritos de quem estava sendo operado não assustasse os outros pacientes. A diferença é que agora essa agonia é televisionada, vista em tempo real pela Internet.
De que nos adianta tanta tecnologia se não sabemos usar sequer o abraço? Se o abraço passou a ser artigo de luxo, evitado por quem não deseja passar adiante ou trazer para dentro de si um vírus que segue sua trajetória alucinada, com mutações letais enquanto os aeroportos brasileiros se mantêm abertos e sem oferecer o mínimo de segurança em suas chegadas. A tecnologia não adianta de nada. Serve apenas à propagação de Fake News, às muitas cortinas de fumaça espalhadas para não ver o óbvio: a morte cruzou seu patamar mais horrendo e nós, brasileiros, estamos à mercê das loucuras de políticos que em nada, absolutamente nada, se preocupam com o bem-estar social.
A verdade é que nós não temos literalmente onde cair mortos, porque estes senhores, uma vez contaminados, encontram vagas na UTI, oxigênio e chances de não ir parar a sete palmos da terra. Se morrem, podem até se dar ao luxo da cremação. Chega! Não podemos mais achar isso normal. Não temos um “novo normal”. Vivemos uma imoralidade sem precedentes. Estamos sendo massacrados. Morrendo à mingua sem tempo de chegar aos hospitais e, uma vez nos hospitais, sem chances de dar o último suspiro com o mínimo de dignidade. Sim, porque a morte, assim como a vida, carece de ser Digna. Se não for, não passamos de estatísticas jogadas num mapa-múndi amassado e corroído pelos ratos que estão no poder.