Rede ao leo
Papai inventou de colocar a rede no tempo. Ele disse que seria bom pra ver o céu. Achei a ideia estapafúrdia desde o início, ainda mais porque pediu para eu torcer os parafusos dos armadores, o que fiz com muito esforço, pois a força é pouca e a falta de prática demandou tempo e falta de jeito. Mas hoje resolvi me deitar nela a olhar o céu. Esse estava azul, com nuvens poucas, se juntando e separando. Vôos solitários de passarinho eu vi. Um avião pequeno, sobrevoando baixo, fez o pensamento pegar carona e voar também. Tudo isso aos pios da calopsita e do mensageiro do vento, que soava lentamente, pois o vento aqui é tímido. A tarde do dia 25 de dezembro escoava preguiçosa, como se quisesse parar o tempo. Pensei em trabalhar meus processos, ou ler um livro, ou caminhar... A todas as propostas dizia "não". Então entendi que a poesia precisa de sossego, como diz Marília Paixão, para se avizinhar. Fiquei quietinha observando todas essas coisas, enquanto os dedos digitavam velozes o teclado do celular touch no smartphone...