Manifesto campo-grandense de 1902
No dia 22 de agosto de 1902, o jornal Colombo, de Miranda, publicou um manifesto assinado por cidadãos de Campo Grande, sul de Mato Grosso, denunciando a falta de segurança existente no município, assim como o fato das deliberações do governo estadual não se tornarem realidade na mesma localidade. Esse documento explica o grande vazio que houve entre a criação do município, em 26 de agosto de 1899, e a posse da primeira legislatura que ocorreu somente em 23 de janeiro de 1905. Seis anos se passaram para iniciar a organização administrativa do novo município. Dada a importância desse registro, transcrevemos suas partes principais:
“É do domínio de todos a reunião que teve lugar nessa vila, no dia 6 do corrente [junho de 1902], e que teve por objetivo organizar um diretório [político] que se interessasse pelo bem-estar e prosperidade desta futurosa localidade. Estamos investidos de uma missão honrosa que exige solicitude e zelo em benefício de todos os cidadãos. Não ignorar a situação melindrosa em que vivemos e que tanto receio se inspira em virtude dos fatos que temos sido espectadores.
Às sucessivas alterações da ordem pública em todo o estado, os fatos lamentáveis ocorridos devidos às revoluções, implantadas especialmente aqui no sul desde 1890 e 1900, têm acentuado de tal modo uma má impressão entre nós. Essa situação tem nos levado a deixar de acreditar na tranquilidade almejada. Estamos desgostosos do lugar onde vivemos, fundamos nossas propriedades, constituímos família e acumulamos as nossas economias. Por que não desfrutamos de plena paz? Por que a ação do governo não se faz chegar até aqui? Se os bandidos invadem as nossas propriedades, roubam o fruto do nosso trabalho, não temos a quem pedir providências.
Se queremos defender os nossos interesses, somos obrigados a usar dos meios que estão ao nosso alcance e com eles perseguimos os malfeitores. Isso é o que tem acontecido. (...) Até hoje, Campo Grande não tem tomado parte em movimentos revolucionários e tem conseguido manter-se na neutralidade. E alegra-nos inteiramente poder subscrevemos que, até esta data, não há divergência de opinião entre os habitantes dessa localidade. Em breve haverá a eleição para presidente e vice-presidente do estado e deputados estaduais. E para que não diga que tomamos uma deliberação de última hora, antecipadamente, cumprimos o dever de cientificar-vos que resolvemos não concorrer para as referidas eleições. Estamos ao lado do governo atual [Coronel Antônio Pedro Alves de Barros] e apoiaremos o governo futuro e as demais autoridades legitimamente constituídas. Não seremos em circunstância alguma hostis ao governo e nem também podemos lhe prometer coisa alguma. Campo Grande, 30 de junho de 1902.”
Naquele momento, a disputa política estadual estava sendo travada entre Generoso Ponce e o Antônio Pais de Barros (Totó Pais), que seria eleito o próximo presidente, porém foi deposto e morto em 1906. Entre os signatários do documento estavam: Armando de Oliveira, Bernardo Franco Baís, Sebastião da Costa Lima, Antônio Norberto de Almeida, entre outros quatorze cidadãos que tudo fizeram para o progresso da vila se tornou na bela capital sul-mato-grossense dos nossos dias.