Viagem histórica no trem do Pantanal
A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, construída durante um período de nove anos, entre 1905 e 1914, preenche um capítulo especial da história do desenvolvimento inicial da região, na qual nasceu, décadas depois, o Mato Grosso do Sul. Com pouco mais de 1270 quilômetros de extensão, a linha tronco ligava a estação paulista de Bauru ao Porto Esperança, no rio Paraguai, 90 quilômetros antes de Corumbá (MS), onde os trilhos chegaram somente em 1952. Em outros termos, 38 anos se passaram entre a inauguração oficial, ocorrida em 14 de outubro de 1914, e a inauguração da estação da histórica Cidade Branca, onde havia possibilidade de conexão com a rede ferroviária boliviana, para chegar até Santa Cruz de la Sierra.
Durante os primeiros anos, a seção paulista pertencia à Estrada de Ferro Bauru-Itapura, uma empresa privada, assim como a parte mato-grossense pertencia à Estrada de Ferro Itapura-Corumbá. Ambas foram incorporadas pela União, constituindo a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1917. Mas, por se tratar de uma longa história, este texto destaca apenas os desafios da obra iniciada em maio de 1908, na parte do Mato Grosso, com duas frentes de trabalho. Uma começando no Porto Esperança e a outra a partir de Itapura (SP), para alcançar o rio Paraná, próximo a Três Lagoas (MS).
Várias dificuldades foram sendo, pouco a pouco, superadas. Trilhos, dormentes, locomotivas, equipamentos, entre outros materiais, chegavam ao Porto Esperança em navios que subiam o rio Paraguai. Na região deserta não havia nem mesmo o material básico para construir os galpões, depósitos, escritórios e alojamentos. A solução foi então montar um grande acampamento com barracas. Assim começou a grande obra que simboliza um divisor de águas no desenvolvimento econômico e social da região.
No trecho inicial de 46 quilômetros ficava um grande desafio: fazer um extenso aterro para assentar os trilhos, livrando da planície do Pantanal, área que ficava inundada por vários meses devido ao transbordamento dos rios Miranda e Paraguai. A construção desse aterro levou quase um ano de serviço. Outra dificuldade foi a falta de operários dispostos a enfrentar o trabalho, o calor excessivo, os mosquitos e o isolamento da área. A empresa resolveu então pagar um salário bem mais vantajoso do que aquele pago em outros lugares. Esse atrativo motivou a vinda de centenas de imigrantes que aceitaram o serviço. Memórias da comunidade japonesa campo-grandense indicam que cerca de 120 imigrantes, vindos da Ilha de Okinawa, trabalharam nas duas frentes de trabalho. Quando as obras terminaram, muitos deles resolveram ficar morando na região, iniciando assim a presença importante da comunidade nipônica em Campo Grande e em outras cidade do Estado.
Para finalizar, nada melhor do que fazer o coração vibrar, lembrando da belíssima guarânia “Trem do Pantanal”, cantada por Almir Sater e composta por Paulo Simões e Geraldo Roca. Atrás do símbolo cultural, hoje, sabemos que todos os nossos sentimentos, entrelaçando diferentes povos e nações, também viajam “Sobre todos os trilhos da terra”, para compor essa página da história do nosso Mato Grosso do Sul.