O Encontro nunca foi Casual. Sempre foi Intencional!
Há não muito tempo eu era apenas um pescador.
Residia em Betsaida, uma pequena cidade ao norte do mar da Galileia, mas decidimos, meu irmão e eu, transferir residência para Cafarnaum, uma cidade maior, mais próxima do nosso local de trabalho e melhor localizada, no entroncamento das rotas comerciais utilizadas para a venda do pescado.
Eu tinha muitos bons amigos ali, dentre eles, João que era um dos filhos de Zebedeu, importante empresário do ramo e proprietário de vários barcos de pesca arrendados a outros pescadores que, como eu, se aventuravam no mar da Galileia em busca da sobrevivência através da pescaria.
Os dias transcorriam langüidamente, e a minha vida parecia estar condenada à mesmice da pescaria. Acordar de madrugada, ainda escuro, ajustar as redes na praia, lançar-me ao mar, trabalhar arduamente até a hora sexta e retornar ao meio do dia para a praia a fim de separar o pescado e acondicioná-lo nos cestos apropriados para o transporte até o mercado de peixes, ou, vendê-lo aos comerciantes ali mesmo, à beira-mar.
Um dia, o meu amigo João me convidou para tirar umas férias e viajarmos juntos até a margem do rio Jordão passando pelo deserto da Judeia. Eu não sabia, embora tivesse concordado com ele, se soubesse, que o interesse de João era conhecer um tal João Batista, tido como profeta que batizava pessoas no rio Jordão e que anunciava para breve, a chegada de um importante personagem como cumprimento das profecias acerca do Messias, relatadas nas Escrituras e estudadas em todas as nossas sinagogas.
Dizia o profeta: "Eu batizo com água, mas entre vocês está alguém que vocês não conhecem. Ele é aquele que vem depois de mim e não sou digno de desamarrar as correias de suas sandálias."
A aparência de João Batista lembrava o que se conhecia do profeta Elias que, há muitos anos havia enfrentado o rei Acabe e a sua esposa Jezabel, um casal extremamente belicoso e sanguinário que governou o nosso país antes do cativeiro na Babilônia. Vestia-se com roupas feitas de pelos de camelo, usava um cinto surrado de couro e, imaginem, alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre. Para mim, acostumado à dieta de pescador, nem de longe podia me imaginar comendo gafanhotos!
Mesmo assim, fiquei impressionado com a assertividade do profeta e propus ao meu amigo João que voltássemos no dia seguinte para ouvir um pouco mais da sua mensagem. E assim os dias se sucederam. João e eu nos identificamos com a mensagem do profeta e passamos a acompanhá-lo nas suas pequenas incursões pelas aldeias e desertos da Judeia.
Certa vez, enquanto ouvíamos a mensagem do profeta, percebi que ele apontava na direção de um jovem recém-chegado e disse:"Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo." Então era ele? O Messias de Israel?
Sem perda de tempo, chamei João e seguimos aquele jovem para conhecê-lo, até porque a referência dada a ele por João Batista não podia ser desprezada. Repentinamente ele se voltou e perguntou se desejávamos alguma coisa e foi quando ele nos convidou para irmos até onde ele se hospedara e, ali permanecemos quase o dia inteiro.
Aquela experiência com Jesus marcou a minha vida e eu não poderia guardá-la somente para mim. De volta à Galileia, chamei o meu irmão Pedro e lhe contei tudo sobre a nossa viagem, inclusive sobre o nosso encontro com Jesus.
Diferente de mim, Pedro era impulsivo e também intempestivo. Desde o momento em que lhe falei sobre Jesus, ele não pensou em outra coisa a não ser encontrar-se com o Mestre. E isto acabou acontecendo quando estávamos voltando de uma pescaria e eu percebi a presença de um estranho na praia, como se estivesse aguardando o nosso retorno.
Sim, era ele, Jesus. Reconheci-o de imediato e quando ancoramos os barcos e recolhemos os peixes ouvimos o seu convite afetuoso: "Vinde após mim, e eu os farei pescadores de homens."
Aquilo mudou a nossa vida, e também a vida de Zebedeu e sua Companhia de Pesca, pois dois dos seus filhos, João e Tiago e mais Simão Pedro e eu, deixamos as redes e passamos a seguir Jesus como os seus primeiros discípulos.
Minha mente fez-me retornar ao deserto da Judeia e ao rio Jordão para descobrir, então, que aquele encontro com Jesus e o seu convite para irmos até onde ele estava hospedado não fora casual. O encontro sempre foi intencional e Jesus nos permitiu tempo suficiente para refletir, examinar tudo o que ouvimos e depois tomar a decisão acertada.
O espaço não me permite relatar tudo o que vivemos na companhia de Jesus nos anos que se seguiram. No entanto, retornarei com mais informações sobre o acolhimento de Jesus para nós, homens simples, pescadores, sem muita instrução e, até certo ponto, iletrados, mas sinceros, fiéis e honestos para reconhecer que Jesus era Aquele que as Escrituras e os Profetas anunciaram como o Renovo, a Raiz de Davi, a Estrela da Manhã, enfim, o Rei dos Reis.
Você está convidado a conhecê-lo, assim como eu, André, irmão de Simão Pedro o conheci e o segui até o final dos meus dias.
Deus te abençoe!
Pr. Oniel Prado
Verão de 2021
26/12/2021
Brasilia, DF