SUBTRAÇÃO
Há uma taça cheia de vinho sobre a mesa, outra completamente vazia. O homem bebe lentamente enquanto olha para o vasto deserto da taça e a importância que ela tem na relevância da solidão de sua vida. A mulher por ele amada deveria estar ao seu lado, risonha, feliz, bebendo do mesmo vinho naquela taça agora sem uso. Mas não!
Era um triste e meticuloso ritual noturno constante, para delírio de sua alma, para a chuva de lágrimas quase sempre presente no momento em que ele se servia e não tinha com quem compartilhar. Ela, a amada por quem deixara o passado pensando num lindo futuro, se tornara apenas lembranças, somente uma taça vazia à frente dele. Os abraços de outrora viraram saudade, os ávidos e apaixonados beijos de antes se transformaram em sombras toldadas pela ausência, se viram em cinzas invisíveis em derredor.
Num instante duas taças, quatro braços e dois lábios trocando abraços, beijos e vinho; súbito, por razões nunca compreensíveis para ele, o destino os subtraiu e o resultado foi a solidão da noite e duas taças de vinho, a cheia e a vazia.