Sobre a caricatura no discurso
Impressiona a caricatura que se faz do Outro quando se quer vê-lo calado. Transformar o Outro numa caricatura de si, além de desonesto, é se negar ao debate. É se esconder nas sombras das caricaturas, porque, diante da incapacidade de argumentos razoáveis, se apoia e se apela para a caricatura como meio de desviar o olhar. É uma maneira vil de se deslocar o debate. Quem lança mão da caricatura ( não a caricatura artística) como mecanismo de silenciar o Outro, na verdade, se expõe como o pavão ao se mostrar belo. Ao contrário do pavão, o que se apoia na caricatura, como artifício vil do deslocamento do debate, o que se apoia na caricatura, denota sua fraqueza nos argumentos. Denota a desfaçatez, a ignomínia, a insidiosa atitude só aguardada no mitômano.
Nesse sentido, a caricatura no discurso, mais do que bloquear a possibilidade do debate, se mostra como um desvio, um atalho, que o interlocutor se agarra porque sabe, tal qual um castelo de areia, que suas razões não se sustentam. É um artifício característico dos falsários, dos beócios, dos desonestos.
O desonesto, tal qual o falastrão, se esconde em atitudes e recursos tecnológicos. Se esconde porque, através desses meios, não consegue enfrentar o debate.
A caracatura do Outro, é a sobrevivência do inepto.
Do inepto que se transfigura em alguém detentor de valores irretocáveis. Tão irretocáveis que ao ser questionado, especula dizendo que interlocutor faz especulações. É
o artifício rasteiro e desonesto. É uma distorção das possibilidades do debate.
Nesse horrendo quadro, o que resta, como resquício do que um dia pareceu ser a saudável norma do convívio, resta a decepção. A decepção como medida, para não ser grosseiro, daquele que se apresentou como razoável.
Instalado esse quadro, de tudo do que se viveu, a possibilidade do reencontro não estará dentre as desejadas.