DOIS MIL ANOS DEPOIS
Aqui em Belo Horizonte um recém-nascido foi abandonado numa sacola, jogada na caçamba de lixo da rua. Veio o caminhão da Prefeitura, recolheu a caçamba de rejeitos e já ia levando tudo para o aterro sanitário quando o motorista teve de parar o veículo por causa de um defeito.
Foi aí que Adilson Rosa ouviu o choro do bebê e, revolvendo os despojos, se deu conta de que levava um ser humano para o lixão, onde, certamente, seria esmagado pelo montanha de entulhos do local.
Ainda com o cordão umbilical, a criança foi encaminhada ao Hospital Risoleta Neves, onde recebeu os devidos cuidados médicos e agora – espera-se – tem uma vida toda pela frente.
Mas não deixa de ser uma coincidência. Na véspera do Natal, alguém não quis que aquele pequenino e indefeso ser humano nascesse ou sobrevivesse. A polícia ainda não sabe se foi o pai, a mãe, ou outra pessoa que não quis a presença daquela criança no mundo.
De qualquer forma, a caçamba de agora nos remete a uma longínqua manjedoura onde, há dois mil e poucos anos, segundo a Bíblia, outro menino nasceu, contrariando a vontade de um poderoso soberano que havia determinado a morte de todas as criancinhas naquela época.
A diferença é que, naquele tempo, os pais queriam e amavam o pequenino e, por isso, fugiram da perseguição do rei, o que explica o parto numa desconfortável manjedoura em Belém, no dia 25 de dezembro.
Comentando com minha mulher essa “coincidência” (a desejada morte de um bebê quase no mesmo dia do Natal), ela ponderou:
- Ainda bem que não temos outro Herodes.
Mas eu fiquei na dúvida. Num momento em que mais de 600 mil brasileiros já foram para o túmulo, por causa da COVID, e, mesmo assim, o “dono da caneta” não quer que nossas criancinhas sejam vacinadas, eu fico com a pulga atrás da orelha. Mineiro é assim ...desconfiado.
Mas a desconfiança se desfaz quando relembro as palavras do próprio aniversariante do dia 25:
- “Vinde a mim as criancinhas porque delas é o reino dos céus!”