Não há Natal sem futuro
Então não seria Natal, um Natal sem futuro não existe, nem nunca aconteceu, desde 2021 anos; sempre existiu numa perspectiva indulgente de um venturoso futuro, é para isso que Jesus Cristo nasceu, morreu e ressuscitou. Contudo, se acredito em Jesus, na plenitude da sua divindade, admito também, pela fé, que Jesus nunca precisou ter nascido, Ele já existia, ou seja, “no princípio era o Verbo, que se fez carne para habitar, entre nós”, ser como todos os humanos e tal qual viver como cada um de nós. Como poderia ter assumido nossa humanidade, nossa vida e até nossa cultura, sem ter nascido? Para isso nasceu, para iniciar a vinda do enviado ou também o princípio de toda a Revelação.
Nasceu, na situação social da maioria, pobre, contudo, advertidamente, tendo onde dormir, diferente das crianças de rua, que dormem na rua, nas calçadas da rua, sem qualquer abrigo. Com esse humilde gesto, condenou as injustiças cometidas contra os “pequeninos” sem teto, sem ter “uma pedra onde reclinar a cabeça”; suportando o frio da noite com pedaços de caixa de papelão e velhos jornais. Admirável é o país, cuja população consegue construir casas, onde meninas e meninos não sofreram relento e, quando nasceram, tiveram o seu “natal” com dignidade humana. Não ter um lugar para nascer seria um “natal” previsívelmente sem futuro... Admiráveis são os países que fazem suas ruas como caminhos para casa, e não, como casas para seus filhos. Rua é rua; e casa, casa. Isso seria uma consciência que se avantaja, diante de qualquer esmola ou de brinquedos usados, entregues nos sinais de trânsito, como doação de presentes de Natal. Nesse aspecto, a caridade respeitosa não atenua, nem perdoa nossos pecados sociais, a começar pelo pensamento que politicamente construa um país injusto.
Durante dezembro, constroem-se presépios, mas não se aprendem lições. Veem, nesse evento, às vezes, mais beleza do que nas catedrais góticas, com suas naves, torres e vitrais. Mas, pelo que resta da vida, tudo tão efêmero, que se acaba no limiar do ano seguinte, não se esboçando algum entusiasmo que anime a solidariedade e o amor ao próximo, o que seria o espírito natalino, até a vindouros “25 de dezembro”. Desvirtuar o Natal seria como se quebrassem com uma pedra os vitrais, depois que fossem vistos... Para recuperá-los, o cristão cataria os cacos desses vidros coloridos. Ao passar do ano litúrgico, que as cores e a mensagem do presépio permaneçam nos nossos espíritos.
Natal significa o pequeno menino ensinando aos grandes. Falta os grandes aprenderem dos pequenos, aceitarem a profecia de Isaías (11.6): “... e uma pequena criança os guiará”. Criança guiar adultos? Parece que, no campo da sabedoria, o saber que discerne vê as coisas também pelo avesso, como é o caso do adulto se tornar criança para que, na simplicidade, enxergue a verdade. Assim, o Natal com futuro é uma realidade pelo avesso: a aprendizagem dos adultos, sendo alunos; e as crianças, seus ensinadores. Por isso, tanto esforço dos magos, mesmo considerados sábios, procurarem, deserto afora, uma criancinha, até achá-la numa estrebaria, escondida da espada do rei Herodes e de outras armas. O Natal serve para curar a presunção adulta, circunstância, em que se reza para Ele nos curar de ser gente grande, entesourando apenas riquezas, cousas e coisas de gente adulta. Anselmo, magistral doutor da Igreja, disse que “Deus é aquilo maior do que pensar não se pode”; sim, mesmo na fragilidade, na simplicidade e no humilde Presépio daquela criança...