Cada um se estabelece no íntimo de seu infinito particular. E nesse universo tão pessoal não há máscaras que se sustentem por muito tempo. Encenar todos os dias um personagem pode gerar duas questões: ou você se torna o próprio ou acaba se revelando nos detalhes.
Dizer que o último ano foi de aprendizado é tão superficial quanto as árvores natalinas em que foram dependurados os enfeites mais bonitos, enquanto a família sequer se sentará à mesa, por causa das desavenças. Em meio aos penduricalhos, os sentimentos nobres pregados pelo Menino Deus, ficaram sufocados: presentes e presenças se confundem.
O processo seletivo desse ano foi exigente: de um lado os sensíveis e emocionados, que jamais recusarão um abraço e perdoarão o mundo; do outro, os que forjaram a sua própria identidade para sustentar suas teorias tão mirabolantes que atraem pelo efeito pirotécnico.A maldade humana não vira estrela no topo da árvore.
Não sou a mesma de 2019, nem a de 2020. 2021 que o diga! E não é a diminuição do colágeno que denuncia essa constatação que cospe na minha cara, mas são os sentidos que me tocam, na intrínseca propriedade de revelarem o que há de mais puro, e retocam essa personalidade, sentenciada como forte, só pra justificar a prontidão da fala, disfarçada de autenticidade, que não se alimenta dos silêncios que dizem muito mais. Mas estou longe de segurar essa língua, confesso minha fraqueza. Ainda arroto em lugares públicos, reconheço.
E por falar em infinito particular, ando necessitada de sandálias mais leves, a efemeridade da vida não permite perder tempo com pesos desnecessários. Malas não tem rodas em vão, são os reflexos dos deslizes.
E pra não perder o humor, apesar de tudo, esse ano foi uma voadora, com chute na cara e quebra dos dentes.
Sobrou a casca grossa, resistindo bravamente feito peru em véspera de Natal: depenado, temperado e esperando o fim, única certeza.