Histórias em Quadrinhos.

Sempre achei a realidade um tédio, uma chatice. Os meus pais gostavam de assistir as novelas do Manoel Carlos, só que eu achava aquilo horrível. Detestava os diálogos, a falsa poesia que os personagens falavam e toda o pseudo-realismo que emanava aquela besteira .Sempre desprezei as novelas. As mocinhas chorando, o vilão rindo que nem um débil mental e o casalzinho se beijando no meio da chuva…e claro…todo mundo se casando!

A válvula de escape era os quadrinhos, acho que sempre foi. Eu não tinha muitos amigos, o meu relacionamento com o sexo feminino sempre foi complicado e novamente…a realidade era um saco.

Só restava os quadrinhos.

Antes de eu nascer, em casa já tinha as revistas da Turma da Mônica. Então era o que eu tinha em casa, pilhas e pilhas de Turma da Mônica. Acho que não li nem a metade. Era uma escapatória, mas eu lia, pois não tinha outra coisa pra fazer.

Só que eu lembro que fui numa banca de jornal, e lá tinha uma HQ do Spawn. Sim, aquela coisa terrível do Told Mcfarlane e toda aquela geração da Image Testosterona Comics. Só que na época aquilo parecia fabuloso, e se você era um moleque, tu ficava vidrado com aqueles gibis cheio de testosterona e pancadaria. Insisti pro meu pai comprar, ele achou caro(pobre coitado, não imaginava que os preços dos gibis iam aumentar no decorrer dos anos!) e não comprou.

Acho que fiquei um mês falando sobre aquele tal de Spawn, até que o meu pai não aguentou mais e começou comprar gibis de Sebo.

Lembro que umas das primeiras HQs que eu li e fiquei vidrado foi a Superaventuras Marvel, e até hoje tenho algumas edições dela em minha coleção. Não lembro qual foi o número da edição, mas tinha o Conan, tinha o Demolidor de Frank Miller e o X-men, onde Chris e Byrne já eram parceiros. Lembro que fiquei fascinado com essa história do X-men, onde eles iam pro espaço e tudo mais. Byrne sempre foi um desenhista da escola de Jack Kirby, então aquelas páginas coloridas, cheias de perigos cósmicos e psicodélicos chamaram a minha atenção.

De fato, era mil vezes melhor que assistir uma novela. Novelas das oito? Hahahaha! Uma piada de mal gosto. Os adultos eram uns idiotas, não sabiam de nada.

Eu sabia, ou sentia que sabia. Tinha o Conan lutando contra monstros incríveis magos, tinha o Demolidor saindo da porrada com o Mercenário, o X-men, e claro…tinha edições históricas da Marvel.

Lembro também da primeira vez em que eu li Batman, por mais que esse personagem está enraizado de minha vida desde que eu nasci. Não consigo lembrar quando comecei a gostar do Batman, acho que nasci já gostando do Homem-Morcego, mas a primeira história que eu li dele foi aquela época em que tinha o Dennis O'Neil como roteirista. Foi uma boa época.

Outras lembranças? Bom, eu pegava um Calvin e Haroldo numa biblioteca perto de casa. Acho que eu lia algumas coisas do Laerte, principalmente os Piratas do Rio Tiête .Por sinal, esses cartunistas brasileiros eram legais. Principalmente o Angeli(por mais que eu ia conhecer as obras dele bem depois) e Laerte. Era muito rock and roll, muito rebelde e tinha uma certa liberdade. Parecia que eles não se importavam com nada.

Lembro também que o meu pai me deu sem querer a segunda edição do Cavaleiro das Trevas. Sim, aquela edição de quatro partes, lançado pela Abril pela primeira vez, lembra? Pois é, ele comprou a segunda edição pra mim e mal sabia que tinha comprado o clássico. Lembro que fiquei bem assustado com aquele gibi, por mais que eu já tinha lido o Miller antes, mas aquele quadrinho ele estava se desconstruído. Lembro que eu achava ele um péssimo desenhista, com uns traços grosseiros e um jeito sujão de desenhar, mas também lembro que essa sujeira visual que fez com que eu me chocasse com aquele gibi.

Foi sensacional.

Mas claro, tinha a solidão. Acho que todo leitor de quadrinhos no passado, era de fato, uma criatura solitária. Muitos achavam que ler gibis era uma perda de tempo, mas eu também achava legal ler eles por causa disso…a maioria não lia. Tinha uma espécie de rebeldia infantil.

Talvez eu escreva mais sobre isso. Pois falei só sobre algumas leituras da minha infância.