Eliza.

-Lembro nesse filme…só que esqueci o nome.

Disse ela, no balcão do bar, acendendo um Marlboro.

-Eliza…cê sabe que é proibido fumar em locais fechados…

Disse o Teves, dono do boteco, olhando pra Eliza. Sim, sim…acho que alguns de vocês já devem ter conhecido mulheres como Eliza.

Teves fica triste em olhar para aquela ruiva oxigenada, com olhos azuis virando cinza…por causa da velhice.

Quando foi aquela época, em que Eliza parecia ser uma grande promessa? Todo mundo em Itaim Paulista imaginava que aquela gatinha ia dar certo.

De fato, ela ia aparecer em algumas revistas, posar como modelo, com o seu corpo magro e a mesmo tempo sexy.

Eliza era uma garota muito bonita. Tinha um cabelo curto, estilo Jean Seberg, porém era castanho brilhante e vibrante. Tinha olhos azuis do mar, olhos grandes, quase parecendo que aqueles olhos eram dois planetinhas terra…e sim…tinha pernas magras, mas cheia de musicalidade e lábios vermelhos fortes e grossos…uma beleza de garota.

O ápice de Eliza foi aos 19 anos. Ela andava por aí, com umas roupas meio indie, tentando ser uma espécie de garota nouvelle vague e trabalhando como modelo de algumas revistas de moda.

Muitos garotos, inclusive o Teves, se apaixonaram por ela.

Mas Teves era realista, sabia que aquela garota nunca ia ser dele.

Teves sempre foi um derrotado, um frustrado. Um dia, imaginava que poderia ser o novo John Lennon ou um novo Bob Dylan, mas as curvas da vida fizeram com que ele herdasse o boteco de seu pai.

A Eliza?Bom…sempre viveu em Itaim. Teve um pequeno período em que ela pensou em sair nesse bairro, onde ela falava que era terrivelmente deprimente.

Mas ela fracassou miseravelmente. Nunca conseguiu sair de Itaim Paulista, extrema Zona Leste.

Só que poucos conseguem saber o que aconteceu com a nossa Jean Seberg, em como a tal garota modelo poderia ter virado em uma velha pinguça derrotada.

Bom, tem várias teorias. Uma delas é que o mundo da moda não é pra qualquer um, pois parece que chegou um dia em que um tal figurão queria que a Eliza transasse com ele, mas ela não fez isso e foi cancelada. Outros falam que foi alguma desilusão amorosa, um boyzinho que deu um belíssimo pé da belíssima bunda de Eliza.

Quem sabe?

Teves tem o mesmo pensamento. Eliza vai no bar dele há uns quinze anos. Na primeira vez, era apenas uma distração, só que depois virou algo rotineiro e ela envelheceu rapidamente. Eliza considera Teves o seu único amigo, mas ela sempre fala isso de uma maneira deprimente, depois de ter bebido umas boas doses de conhaque.

Teves apenas observa, fala com ela sobre coisas da vida, mas nunca invadindo o íntimo de Eliza. Eliza gosta de cinema, das musas do cinema dourado e assim por diante.

Ela acredita que falar pouco de si mesma, faz com que ela seja misteriosa…

“O Mistério…é a única coisa que me mantém viva!”, pensou ela, enquanto ascendeu o cigarro e olhou pro Teves. Ela parecia desafiar o já velho dono do boteco, mas era mais uma provação amigável…

-O nome do filme…

disse Teves

-Era…hum…”Bonequinha de Luxo”.

-Oh sim…cê tá certo, Teves. Sempre foi um cara esperto…

-Eu poderia ter sido alguém como John Lennon

Falou Teves, quase de uma maneira aleatória.

-É…

Disse Elisa, olhando pro copo vazio de conhaque e tragando o seu velho Marlboro.

-...todos nós poderíamos.

CaiqueM
Enviado por CaiqueM em 22/12/2021
Reeditado em 29/12/2022
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