Carnificina, ou carne fascina...?
Comprar carne naqueles açougues antigos, nada amigos, não era nada agradável.
Você nunca saía ganhando, mesmo obedecendo cegamente o comando: " Traz
uma carne boa" - e aí é que a gente voava e zoava, como até hoje se zoa:
como identificar a tal carne boa? E isso aí ainda não era nada, pois convencer o
açougueiro na hora do talho é que era maior trabalho.
Ao fim e ao cabo, dava-se satisfeito por não haver levado um rabo. Mas era carne
com pelancas, com sebo e mais impurezas até que nem concebo. E não tinha jeito,
senão levar aquela carne feia para casa - e encontrar ainda uma cara mais feia
a recebê-lo reclamando da sua ignorância, da falta de tutano pra enfrentar esses
magano, de exigir uma coisa melhor pela qual se pagava - e não se fiava. Sem contar
o contra-peso, que ainda provocava engulhos no freguês indefeso...
Isso sem contar as asperezas do habitat onde as carnes eram expostas, em meio
àquele cheiro nauseabundo, cães à porta para reforçar o adágio de quanto cão é
o mundo, a mosquitama que não dava tréguas, vindo de longe, de léguas, só pra
depositar as suas varejeiras entre eiras e beiras.
Mas pior ainda era comprar mocotó. Que coisa mais feia, desgostante do que um
pé-de-boi, que abatido foi. E levar aquilo pra casa, sem embrulhar, a não ser o
estômago, e o povo vendo aquilo tudo, comprado por uma tutaméia que, ainda
bem, se redimia, ao terceiro dia, na geleia, cuja doçura tu num faz nem ideia...