Crónica de Natal - Amar ao Próximo como a nós mesmos

Nunca antes, nem com os meus tantíssimos anos de psicanálise, nunca nada me ensinou ou ajudou a entender a autêntica dimensão deste requisito “Amar ao próximo como a nós mesmos”

Pois, por vezes, nem sequer Amar a nós mesmos é simples...

Queremos, precisamos de ser felizes...

Um dos “contras” reside na nossa receptividade ao nosso trabalho profissional... Por vezes, não gostamos da profissão que foi possível escolher... Neste caso, teremos que aprender a gostar do que fazemos.

Teremos que exercer o nosso trabalho com o mesmo amor e paixão que teríamos pela profissão dos nossos sonhos... Não aceitando o que fazemos como uma escravidão do que não se gosta, mas sim como um incentivo à criatividade, um incentivo ao desenvolvimento da nossa capacidade de auto-superação...

Esforcei-me por perceber a ideia do perdão:

Finalmente, compreendi que não perdoar, é ficar presa, permanecer no passado. É como se pedisse ao Universo: fiquei tão zangada com isto, que agora quero que o repitas!

Foi por isso, certamente, que os afectos correram todos tão mal na minha vida.

Eu estava – eu fiquei – parecia que para sempre – tão magoada com a minha Mãe, tão magoada, tão ofendida. Era – e é, impossível esquecer… E, de um modo geral ,as pessoas que se cruzaram na minha vida, foram repetindo sempre as mesmas ofensas, os mesmos desprezos, a mesma arrogância, o mesmo egoísmo... A minha Psicanalista dizia-me que que criei um “padrão”...

Depois, penso que dei um passo em frente, e comecei a questionar-me:

O que é o perdão? Perdão, não pode ser igual a esquecimento... Uma pessoa tem memória, como é que pode esquecer? Perdão, é certamente outra coisa...

Perdoar, é, finalmente, saber viver com essa memória magoada, e não deixar que ela perturbe as nossas vidas...

Mas esse ainda não era o caminho. Compreendi, finalmente, que perdoar – é agradecer a experiência dolorosa, por muito má que ela tenha sido, porque sem essa experiência, não teríamos evoluído para a pessoa que somos hoje…

É algo de admirável...

Perdoar não é continuar a conviver com quem nos magoa, não é dar a essas pessoas a oportunidade de repetirem o mal que nos fizeram. Essa forma de perdão é a que nos ensinaram... Mas é, tão somente, mais um instrumento da opressão que os poderosos exercem sobre os subordinados:

Nós exploramos-vos até ao tutano: mas vocês “perdoam-nos”, e continuam, humildes e arrependidos dos vossos maus pensamentos, continuam mansamente a obedecer”!

Perdoar – não é levar à letra o “Dá a outra face”!

Perdoar – é uma atitude muito mais inteligente:

É conseguir o milagre de ter paz no nosso coração em relação a quem nos magoou. Então, perdoar – é guardar essas pessoas no nosso coração, se formos capazes, com a ternura com que as amámos. Mas acima de tudo, agradecer-lhes, no íntimo mais verdadeiro do nosso coração, a experiência que nos proporcionaram viver. Experiência que reverteu em mais uma aprendizagem sobre a vida e sobre nós próprios, experiência que nos deixou psicologicamente mais fortes e menos vulneráveis.

E isso sim, isso liberta-nos.

Myriam,

Maio de 2007

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 21/12/2021
Reeditado em 21/12/2021
Código do texto: T7412034
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