PROFESSORES, DEIXEMOS DE SER IDIOTAS!

“Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”

Paulo Freire

Claudio Chaves

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FICO tentando imaginar como o Patrono da Educação Brasileira reagiria ante o imbróglio envolvendo o governador, prefeitos de municípios e trabalhadores da Educação (especialmente professores) em torno da bonificação desses trabalhadores com saldos do FUNDEB naquele que, por décadas, manteve a auspiciosa fama de ser o Estado [do Amapá] que melhor remunerava essa categoria. E tudo isso acontecendo no ano em que, em todo o País – e em outras partes do mundo –, fervilharam calorosas homenagens e incontáveis rodas de debates sobre o centenário natalício do nosso mais destacado educador e filósofo e sua grande contribuição, especialmente no que se refere à compreensão e autoaceitação do professor como sujeito político e, por conseguinte, agente da transformação [ou da conformação] social.

O QUE nossa reação ao tratamento dispensado por tais governantes revela sobre o que dizemos saber e o que, de fato, aprendemos, até aqui, sobre o pensamento freireano?

SEJAMOS sinceros e realistas! Qual governante não tem entre os seus principais assessores, conselheiros e estrategistas vários professores – muitos, inclusive, oriundos da militância?

QUEM elabora a política de Educação desses governos? Militares? Médicos? Agricultores? Artistas...?

QUEM avalia, fiscaliza, defere/indefere aspectos como contratações de mão-de-obra docente e outros serviços, aquisição de bens, como móveis, imóveis, transporte, merenda... e seus respectivos impactos?

QUEM está no comando das Secretarias de Educação e todos os seus departamentos, dos Conselhos de Fiscalização e Controle, dos Conselhos e Gestões Escolares e do Sindicato da categoria?

QUEM?!

A RECLAMAÇÃO [até certo ponto, justa] é a de sempre: “o governo e os governantes não valorizam a educação e os educadores”.

MAS se os espaços decisórios desses governos estão ocupados exatamente por educadores, como entender tal reclamação senão como uma autoacusação (de cumplicidade de quem é oprimido com quem oprime), profunda imperícia ou uma confissão de total alienação?

NÃO há como deixar de ressaltar ainda pelo menos 3 pontos: 1) nenhuma outra categoria profissional tem, por imposição legal, inclusive, a oportunidade de está, diariamente, de forma direta e indiretamente, em contato com todos os cidadãos e futuros cidadãos do País, através das dezenas de milhares de salas de aula Brasil a dentro – se não lhes transmitem seus pensamentos e sua cosmovisão é por opção própria, não por falta de mecanismos e de oportunidades; 2) a emenda constitucional que tornou obrigatório a bonificação foi aprovada há mais de um ano, não há, portanto, nenhuma surpresa – é mais provável ter havido falta de organização e negligência da categoria; e 3) temos uma organização sindical (regional e nacional – que, por sinal, tem articulação, inclusive, com organizações internacionais congêneres), a qual tem, entre muitas, as atribuições de fiscalizar a ações dos governos, formar e capacitar técnica e politicamente seus dirigentes e todo o seu corpo de afiliados, além de mantê-los bem informados, para evitar dissabores como o atual.

NUM PAÍS em que se pode defender abertamente o fascismo, limpeza ideológica e negacionismo científico se tornam políticas de Estado, e onde juízes, promotores e militares são militantes político-partidários, haver professores que, em nome de uma fictícia neutralidade, recusam se assumir como sujeitos políticos, seria um delírio esperar resultados diferentes dos que estamos a assistir.

ANTE tais considerações, resta-me invocar (mais uma vez), outro professor e filósofo nacional, Mário Sérgio Cortella, que assevera: “eticamente, é quase um clamor que nós ultrapassemos esse mundo da tarefa e cheguemos ao mundo da política com aquilo que fazemos”.

E SE É, como diz o autor, pra clamar, então clamemos: professores, deixemos de ser idiotas, pelo ‘amorde’....!