A noite
Confesso que andava meio anestesiada. Mas hoje, na fazenda, quando vi o dia indo embora, senti uma alegria profunda. A chuva tinha cessado e o céu estava menos carrancudo, deixando entrever faces de cores. E fui prestando atenção em tudo que via ou ouvia ao redor. A cigarra pegou a cantar. Os quero-queros davam rasantes no solo, barulhentos. O gado mugia, manhoso. E lá embaixo, o cavalo queria namorar e relinchava, afobado. Não demorou nada para a noite se vestir de preto. E meus ouvidos ficaram contentes com a saparia no brejo. Eu amo esse som ritmado! Quando olhei para o pomar, vi pirilampos. Fiquei surpresa, porque é um inseto cada vez mais raro por aqui. Então me lembrei que o Natal se aproxima e que eles vieram enfeitar as árvores de verdade. Todas essas coisas, tão sem importância, são pílulas de alegria. E eu precisava mesmo desse remédio!