Relatos de um trabalhador cansado

Indo para o trabalho, estou parado no ponto esperando ônibus que para variar está demorando. O ponto de ônibus lotado, fico imaginando como o ônibus não vai estar quando ele vier, fora o trânsito. Mas fazer o quê neh?

A passagem é cara, somos tratados como gado e as empresas de transporte ganham por cabeça. Não está satisfeito?

Se endivida todo e compra um carro, lei dos nossos tempos.

Já dentro do ônibus, sentado perto da janela, ele passa em frente ao CAT (Centro de Apoio ao Trabalho), vejo uma fila enorme, tipo indiana, com milhares de pessoas, semblantes cansados, muito provavelmente sem dinheiro, sem nada no estômago, mas com a esperança de conseguir alguma vaga de emprego. Nessa crise a chance é mínima porém a esperança é a última que morre, penso comigo mesmo. Mais adiante no centro da cidade, na Barão de Itapetininga, outros milhares com a pasta cheia de currículos na mão, entregando nas agências ou para os tiozinhos com as placas.

A oferta é pouca e a procura é grande, ou seja, poucas vagas para milhares de pessoas e infelizmente o drama do desemprego, para muitos que são a grande maioria da população, vai continuar.

O que me dói mais é saber que toda essa engenharia social é feita de propósito, exatamente para manter o povo sob controle.

A escravidão acabou ou apenas mudou de roupagem? O jogo é claro e objetivo: ou você aceita às regras ou fica de fora, excluído e descartado como um objeto sem valor.

Aceitou é terceirização, precarização e exclusão dos direitos trabalhistas, redução de salários, demissão a qualquer momento, não importa o motivo.

A inflação aumenta, o preço das coisas disparam e o salário se deteriora.

Dentro da escola onde trabalho, me sinto ainda mais revoltado: professor é desvalorizado, desrespeitado, humilhado, a categoria é extremamente desunida, cada um a sua maneira procura uma saída, mas não encontra. Enfim, a profissão que deveria ser a mais valorizada, dada sua importância, é a mais desvalorizada.

Ao observar meus alunos, percebo que não é por acaso que o ensino está sucateado. Produzir mão de obra barata e consumidora é necessário, além de marionetes.

Em pensar que somos condicionados desde o período pré-escolar até a universidade exatamente para isso, sermos apenas mais um na multidão, massa de manobra, manipulada pelo sistema ao seu bel-prazer.

Interessa a quem toda essa situação? Alguma vez já se perguntou? Observou ao seu redor?

É necessário ter curso superior completo, especialização, pós-graduação de preferência no estrangeiro, inglês, espanhol e francês influente, word e excel avançado, 1000 anos de experiência na área, para poder ficar com a vaga e o salário é mínimo, tudo bem?

Eu lhe pergunto: com essa educação que temos, é requisito ou forma de exclusão?

Na volta para casa, é uma outra viagem. Chegando em casa, tem o Jornal Nacional para nos desinformar, Brasil Urgente para falar da violência que todos sabem, mesmo assim, acabam assistindo, apesar de viver de perto nesse ambiente.

Futebol é na Globo para nos distrair, fazer esquecer nossas mazelas ainda que seja por alguns minutos.

Diante de tudo isso, só existe uma frase para expressar tudo aquilo que estou sentindo no momento: Eu estou cansado!

(2016)