EDUCAÇÃO (Crônica)
A educação tem como objetivo histórico a formação para a vida. Este objetivo é pouco lembrado pelos humanos, mesmo aqueles que se dizem ‘muito humanos’.
Muito humanos são aquelas pessoas que vivem dizendo que a escola, a educação e todas as situações educacionais devem servir para humanizar as pessoas. Ou, outro discurso que se relaciona com este é a defesa que a escola, universidade e eventos relacionados com a formação devem contribuir para uma sociedade mais justa, mais igualitária e demais ‘bla-bla-blás’.
Na verdade e de fato, não é bem isso que acontece nas relações dentro das instituições formativas. Na maior parte de nossas ações como formadores, como professores, somos moldados pelo sistema e contribuímos para construção de uma sociedade contrária em relação ao que defendemos com nossas palavras, intenções e discursos. Mesmo que temos boa vontade de fazer o que afirmamos.
Uma análise criteriosa e atenta acerca das ações que são desenvolvidas dentro dos sistemas (instituições) formativos identificará sem maiores dificuldades que (quase) todas as ações contribuem para produção, reprodução e legitimar as injustiças e desigualdades sociais. Mas, a maior parte de seus agentes defende o que está fazendo e sente até orgulho em fazê-lo. Isso se chama ou hipocrisia ou alienação.
Reconhece-se, e faço parte deste grupo, pois atuo em instituições de ensino, que muitas vezes nossas atividades estão tão fortemente amarradas ao sistema que as chances de romper com o ‘estado de coisas’ é mínimo ou mesmo inexistente. De um lado somos obrigados a reproduzir o sistema, pois podemos ser excluídos ao confrontá-lo; para outros, o conforto que vivem incute-lhes a ideologia de que é melhor fazer o que o sistema manda do que perder o salário na conta. E de fato é. Neste caso, alienação consciente e defensiva.
E a solução? Solução radical, isto é, mudança no sistema de situações, formações e eventos relacionados, não há solução imediata. Vivemos em uma sociedade em que os humanos são orientados para sobrevalorizar primeiro a sua situação, depois de seus mais próximos e, depois, as suas preferências. Assim, humanidade situa-se em escalas: a) Eu, b) quem está perto de mim e c) quem está comigo ou concorda com minhas preferências. Humanos que estão fora deste círculo, são humanos, mas ‘beeeem’ distantes. Pensar em bem-estar coletivo, para todos de fato, é uma ideia abstrata cristalizada em todas as boas vontades ambulantes. É a hipocrisia defendida nas ações nossas de cada dia.
O que se pode fazer? Primeiro, ter consciência de que não há receita pronta. As mudanças, especialmente na Educação, acontecem em forma de processo, são lentas, são históricas. Algumas situações podem contribuir. Aponto a atividade colaborativa (colegiado), crítica, de fato, e com base em critérios humanos e humanizantes, como fundamental.
Isto significa refletir que as formações (aulas), concursos, projetos, mestrados, doutorados e todos os acessos ao mundo do trabalho no campo da Educação podem ser humanizados. Sem esta ação, ‘CREIO EU’, todas as outras demandas, necessárias, apenas continuarão produzindo, reproduzindo e legitimando as injustiças e desigualdades sociais já existentes.
Difícil?, sim. Muito. Porque os humanos gostam mais de dizer que são humanos do que demonstrar de que são mesmo... humanos.