Assassinatos cotidianos
Quando pego o chinelo e esmago uma barata, exerço o o mesmo poder de um ditador fazendo o que bem quer nos seus domínios. Condeno aquela criatura à morte sumária sem direito à defesa qualquer. Esmigalho seu frágil corpinho sem dar conta que deve ter pai, mãe, irmãos e talvez até filhos. Coloco um fim na sua vida com o mesmo ímpeto que um dia acabou-se com tudo e todos num dilúvio impiedoso. Mato a barata sem culpa ou remorso, pegando em seguida um pedaço de papel higiênico para embrulhar o que restou dela (ou dele), desprezando quaisquer rituais fúnebres e jogo no lixinho ao lado da privada. Imagino se os papéis fossem invertidos e coubesse à barata dar cabo da minha vida, sem qualquer cuidado ou cerimônia. É possível que pelo canto do seu olho escorresse um filete de lágrima causado pelo morticínio, fato que em nós, seres "humanos", certamente jamais acontecerá.