Assassinatos cotidianos

Quando pego o chinelo e esmago uma barata, exerço o o mesmo poder de um ditador fazendo o que bem quer nos seus domínios. Condeno aquela criatura à morte sumária sem direito à defesa qualquer. Esmigalho seu frágil corpinho sem dar conta que deve ter pai, mãe, irmãos e talvez até filhos. Coloco um fim na sua vida com o mesmo ímpeto que um dia acabou-se com tudo e todos num dilúvio impiedoso. Mato a barata sem culpa ou remorso, pegando em seguida um pedaço de papel higiênico para embrulhar o que restou dela (ou dele), desprezando quaisquer rituais fúnebres e jogo no lixinho ao lado da privada. Imagino se os papéis fossem invertidos e coubesse à barata dar cabo da minha vida, sem qualquer cuidado ou cerimônia. É possível que pelo canto do seu olho escorresse um filete de lágrima causado pelo morticínio, fato que em nós, seres "humanos", certamente jamais acontecerá.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 17/12/2021
Reeditado em 17/12/2021
Código do texto: T7409712
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