TEM DIA QUE É MELHOR FICAR NA CAMA...
Ana, já com seus mais de 70 e tantos anos bem vividos, era independente. Vivia sozinha desde o falecimento de seu marido, o que causava preocupação aos seus filhos. Mas com o celular, hoje em dia, quem é que está só, não é mesmo? (como ela mesma costumava dizer).
Era muito ativa, fazia suas compras, seus cursos, encontros com amigas dirigindo seu carro com muito cuidado e atenção.
Aliás, seu carro era um Ford Fiesta 2009, que ela comprou usado, em 2016 e conservava com carinho. A família e alguns amigos a aconselhavam a trocar o carro por um mais novo, ou até a vender o carro e passar a usar UBER, pois não teria de se preocupar com licenciamento, seguro, combustível e o trânsito cada vez mais confuso. Mas Ana se negava totalmente. Amava seu Fiesta 1.6 que lhe respondia com agilidade quando precisava ultrapassar alguém, era econômico, pois ela não era de ficar passeando, e ainda estava ali na garagem a qualquer hora do dia ou da noite se precisasse. Enfim ela “se entendia muito bem com seu carro, e tava acabado!”
Embora já estivesse entrando no “tempo de se esquecer” das coisas, tinha uma agenda onde anotava tudo, deixava bilhetinhos pela casa, e colocava o alarme do celular para soar a cada compromisso, com a descrição do motivo do alarme, pois se só tocasse... ela teria de buscar na agenda ou sair à cata dos bilhetinhos.
Com a idade, as dores vieram passar uma temporada em sua casa, e muitas delas trouxeram a família, como a Artrose, a Fibromialgia, a Lombalgia, as Tendinites, Bursites e outras “ites” que necessitavam de atendimento Fisioterapêutico.
Como seu rodízio era de quinta- feira, ela contratou uma fisioterapia no ABC, pois iria pela via Anchieta e não correria o risco de ser multada.
Já se tratava havia alguns meses, e era bem tranquilo. Quando ia, deixava o seu carro no estacionamento de um mercado que era pago antecipadamente, e a clínica de fisioterapia ficava do outro lado da rua. Muito preocupada com a Covid 19, ela sempre levava um frasquinho com Álcool 70 no porta luvas, porque não confiava muito no tal do álcool em gel, que deixava as mãos escorregadias..
Naquela manhã, Ana não ouviu o celular e saiu atrasada. Colocou os cartões da fisioterapia na bolsa e foi correndo para o tratamento. Porém....
Quando foi comprar a vaga no estacionamento, percebeu que deixara em casa a carteira com todos os documentos, cartões do banco, e documentos do veículo, incluindo a Carta de Habilitação... Jamais havia dirigido sem seus documentos, ainda mais numa auto estrada... Ana cancelou seu atendimento, entrou no carro e saiu de volta para casa. Tinha a impressão de que a cada esquina um guarda a pararia.
Quando entrou na auto estrada, vinha pela pista da direita e os olhos no retrovisor, quando ouviu uma sirene. Uma viatura vinha com os faróis acesos e a sirene ligada. Apavorada, acelerou passando muito dos 70 km/h limites da pista lateral... A viatura, que na verdade era uma ambulância, vinha pedindo caminho, mas Ana, tomada pelo pânico, colocou o “pé na tábua” sem se preocupar com os limites de velocidade.
No entroncamento da pista lateral com a auto estrada, entrou bem à direta a mais de 90km/h, e quando foi entrar na saída para Vergueiro o carro rodou e parou no poste... O trânsito todo parou e a Policia Rodoviária que fica a 200 metros dali, chegou para fazer a ocorrência. Ana nada sofreu, porque usava o cinto de segurança, e o carro quando rodopiou, bateu no poste do lado do carona. Mas quando pediram seus documentos, o medo tomou conta e Ana desmaiou. Com a batida o porta-luvas se abriu e o frasco de álcool se esparramou. Ao conferir sua bolsa procurando os documentos, nada foi encontrado...
A autuação foi de embriagues ao volante, direção perigosa, e Ana foi detida por possível formação de quadrilha por estar dirigindo um veículo não identificado e possivelmente roubado...