Natal
O facto principal foi ter nascido Jesus. Tudo além disso se dilui numa neblina densa. Não sei se havia anjos na gruta, se haveria gruta. A imaginação dos homens, que ficam sempre meninos por dentro, foi inventando pormenores, acrescentando coisas, abrindo clareza onde o mistério persistia. Agora há Reis e pastores, vaca, burro e ovelhas na representação do evento. Retiraram ou acrescentaram neve, puseram em Belém uma estrela-dedo, cometa seria, astro que desapareceu quando já não fazia falta. E Jesus, manifestação humana do divino, nasceu para revelar Deus. Os encontros, a fartura de comida e de bebida, os presentes, a árvore ou o Pai Natal, a festa sem crença e a família, são factos que foram saindo do nevoeiro para uma opacidade geral. “ Quando um homem quiser” é Natal e se um homem não quiser também é.