Anotações para a história de Miranda
Este artigo destaca elementos culturais da história de Miranda, município que deu origem à freguesia e distrito de paz de Campo Grande, retornando aos últimos anos do século XIX, décadas antes da criação do Mato Grosso do Sul. Trata-se de descrever a trajetória do professor Francisco Augusto Ribeiro, um jovem paraense que se tornou em grande protagonista da cultura local. Ele chegou à vila, no início de 1888, solteiro, com 23 anos de idade e disposto a ganhar a vida com garra e perseverança. Tinha formação secundária e ampla cultura literária e humanística.
Fixou residência em Miranda para assumir a vaga de professor de uma aula pública para meninos, conforme consta em A Província de Matto Grosso, de Cuiabá, de 9 de setembro de 1888. Fonte essa disponível no acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Diante da dificuldade para receber o modesto salário de professor provincial, o dinâmico mestre permaneceu pouco tempo na regência da referida aula. Pediu demissão para se dedicar ao magistério particular, ministrando aulas nas casas das famílias que desejavam proporcionar uma formação diferenciada aos seus filhos.
Com persistência e seriedade, conquistou muitos amigos, confiança e a simpatia na sociedade mirandense. Casou-se com a senhorita Antônia Rebuá, filha do próspero comerciante Giasone Rebuá, com quem começou a trabalhar como guarda-livros. Depois de alguns anos, abriu sua própria escola denominada “Curso Primário Christovão Colombo”, iniciando um momento especial na história cultural na vila. Criou também uma biblioteca para minimizar o problema da dificuldade de acesso público aos livros escolares, de cultura geral e jornais.
Outra iniciativa do professor foi a criação do primeiro jornal de Miranda, intitulado “Colombo”, no mês de outubro de 1896, data estimada em função do anúncio de sua circulação na imprensa de Cuiabá. Embora esse primeiro jornal mirandense tenha tido vida curta, cumpre reconhecer o pioneirismo das ações realizadas pelo seu redator, visando expandir as condições locais da instrução escolar e da cultura geral.
Além de atuar como professor e jornalista, Francisco Ribeiro também militou na política partidária. Ingressou na Guarda Nacional e foi amigo do senador Generoso Ponce, conhecido líder mato-grossense com quem compartilhava os seus nobres ideais republicanos. Por esse motivo, na maturidade dos seus 40 e poucos anos, assumiu o cargo de intendente geral (prefeito) do município de Miranda.
Ao cumprir suas funções de oficial da Guarda Nacional, ele saiu de Miranda com destino à vila de Aquidauana, no comando de 120 homens que viajavam em algumas pequenas lanchas, para encontrar-se com o comandante da polícia do estado. Estava em curso mais um levante armado no sul do Mato Grosso. Ao atravessar uma área de correnteza, próximo ao porto Santa Avoia, ocorreu um incidente lamentável, causando a morte por afogamento daquele que tudo vez pela cultura de Miranda e da região.
Naquele dia triste, 8 de dezembro de 1907, houve profunda consternação não somente no seio de sua grande família, como também entre seus numerosos amigos, ex-alunos e admiradores. Por essas e muitas outras razões, seu legado cultural está no coração da vila de Miranda daquele tempo e na história do arrojado Estado de Mato Grosso do Sul dos nossos dias.