Shoji Sakate: trajetória de um imigrante japonês
Este artigo reverencia a memória do imigrante japonês Shoji Sakate, que durante quatro décadas participou da construção coletiva do município de Nova Andradina, Mato Grosso do Sul. Em sua trajetória de imigrante, deixou suas raízes na encantadora Terra do Sol Nascente para se tornar agricultor no município de Andradina, São Paulo. Depois de anos, mudou-se com sua família para Nova Andradina, logo após o distrito ter sido elevado à categoria de município, instalado em 30 de abril de 1959.
A nova cidade oferecia excelentes oportunidades para iniciar um novo tempo de trabalho, sendo possível comprar terras para abrir um bom sítio. A cidade crescia “da noite para o dia”, o comércio fervilhava com a chegada de paranaenses, paulistas e famílias japonesas. A pequena Nova Andradina estendia-se ao longo de uma única rua do Comércio, com outras duas ruas paralelas e algumas transversais. Estava ainda rodeada de bosques, banhados pelas águas cristalinas do rio Bahia.
Ao final da rua principal havia uma mata fechada, cortada por uma estrada boiadeira que levava ao rio Ivinhema. Foi nessa direção que Shoji e seu cunhado Matae Suguimoto compraram seus sítios. Uma trilha foi aberta na mata para conectar as duas primeiras casas da região. Assim começou uma longa trajetória de trabalho, plantando pomar, uma enorme horta de verduras e legumes, com criação de porcos e galinhas. Toyoko, sua esposa, montou uma variada banca na feira central. Em seguida, abriu um empório na rua principal, de onde ganhou o sustento para criar os oito filhos do casal.
Natural da vila de Ohaga, província de Okayama, Japão, Shoji Sakate nasceu a 25 de fevereiro de 1914. Chegou ao Brasil com 14 anos, acompanhado de seus pais e irmãos. Depois de participar da fundação da Colônia Esperança, comunidade católica japonesa localizada no município de Arapongas, Paraná, retornou ao oeste paulista. Trabalhou vários anos nessa região, abrindo fazendas de café, enfrentando as adversidades do tempo da Segunda Grande Mundial.
Ao final do grande conflito, com 31 anos, Shoji casou-se com Toyoko Akahoshi, natural de Lins, São Paulo. O casal foi agraciado com oito filhos, três meninos e cinco meninas: Eduardo, Emílio, Aparecido, Toshi, Catarina, Guiomar, Maria e Guiomar. Com exceção do filho Aparecido, falecido ainda solteiro, todos os outros se casaram, tiveram filhos, dando continuidade à descendência. Atualmente, alguns de seus netos trabalham no Japão, sem perspectivas de retornar ao Brasil. Por outro lado, em diferentes regiões do país, multiplica-se a quarta geração da família.
Na última década, a feira livre praticamente acabou e os pequenos mercados deixaram de existir, diante da escalada crescente das redes de supermercado. A área de sítios daquele tempo é hoje perímetro urbano da progressista cidade que se tornou no oitavo município mais populoso do estado. Agraciado por uma vida longeva, Shoji faleceu nessa cidade, às vésperas de completar 91 anos de idade. Afinal como canta o poeta Almir Sater: “Os caminhos mudam com o tempo. Só o tempo muda um coração. Segue seu destino boiadeiro. Que a boiada foi no caminhão”.