INÉRCIA
INÉRCIA
Certo da certeza, escrevo enquanto há tempo. Não gosto de deixar nada para o amanhã, sempre incerto. Nesta manhã, repleta de cinza, a inércia acompanha-me, o nada é tudo. Dia do nada, do lugar algum, do só, da mudez, da surdez, em suma, da morte em vida. Olho-me no espelho e não me vejo, Narciso foi-se, teve siso, nem deixou recado, apenas marcas do tempo. O vento bate a janela, começa o pingar das lágrimas do céu, não vão misturar-se as minhas, elas inexistem, secaram-se no decorrer do caminho. Cerram-se os olhos, não passa nenhum filme, sequer sonho, apenas um cansaço que apenas o sono final reparará. Enquanto isso, escrevo e me enlevo, egoística e em solitude, nessas poucas linhas, que sobrevivem.