Como será o ano que vem

Como será o ano que vem

Será

Como há de ser

Um ano

Em que nossas vidas

Como num jogo de dados

Ou numa roleta russa

Ou, ainda

Como se jogássemos cartas,

A probabilidade de sair

Um As de paus, será a mesma

de um valete de copas ou rei de ouro

Então,

O ano que vem

Tal qual no jogo de cartas ou de dados

Será,

e não poderia ser de outra maneira

Coroado com incertezas

Incertezas que se traduzem em probabilidades

Porém, e só porém,

Se há alguma certeza

Não haverá outro lugar

Senão, e apenas,

A certeza de que não há certeza

É disso que se trata

É nisso que consiste saber

Saber que a única coisa certa

É que não há certeza para o que só há probabilidades

E ai, talvez, e só talvez,

E para frustração daqueles que

depositam no amanhã todas as fichas

Como se a grande aposta

Tal como se tudo ocorresse como no coliseu

Nos jogos de morte,

Onde qualquer descuido,

Era o limiar entre a vida e a morte

Da mesma maneira,

para aquele que aposta no amanha todas as fichas

É penoso se deparar com a bola 7

quando se apostou na 5

Ou

E daí também outra frustração

O sujeito que tinha certeza do rei de ouro

Mas a mesa trouxe valete de copas

Em ambas situações

Segundo o pressuposto

De que o ano que vem

Como qualquer ano que se inicia

O ano que vem não será igual ao que finda

Pois, como tudo que finda

Tal qual as águas de um rio

Por seu percurso

Nunca serão as mesmas

O findar-se

Por si só

Já traz consigo

O iniciar-se

O novo,

Como elemento constitutivo do por vir

Como uma avenida e suas vias vicinais

Apresenta elementos que antes não foram apreciados

Então,

Como será o ano que vem?

Uma miríade de incertezas

Um caleidoscópio de probabilidades

Que

Talvez

Nem Pitágoras

Com seus coscenos e hipotenusas

Fosse capaz de arriscar sobre o que ainda não aconteceu

Noutras palavras

O passado só é passado

Porque para dele tecer comentário

Tenho por referência o presente

O futuro

Da mesma maneira

Me escapa

Porque o que terei dele, senão, e só isso,

Se não uma vaga conjectura que busco no presente

Em ambas situações

É no presente que devo buscar referências

Numa frase: é o Presente que existe

Assim, Como será o ano que vem?

Pergunta arriscada de responder

Pois,

Como se trata de possibilidades

Tudo poderá acontecer

Inclusive

Nada acontecer

Eis aí, a trama

Eis aí, a incompatibilidade, a pedra no lago

Que nada mais apresenta senão esparsas ondas

Ondas que se desmancham

Para que o lago volte a sua forma anterior; de lago

De repouso das águas

Das águas que testemunharam o retorno de Ulisses

Do transporte dos Negreiros

Das águas que banham cidades

E servem de trilhas para cardumes

que alimentam pessoas

Eis o ano que vem

Um ano de possibilidades e nenhuma certeza

Um ano de sonhos e saudades

De saudades de sonhos

Um ano, em tudo

Igual a outro qualquer

E por isso mesmo

Um ano especial