Centenária Igreja São Benedito
A Igreja São Benedito está localizada bem no coração da atual zona norte de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, próximo à margem direita do córrego Segrego. É um templo pequeno, simples, sem as luzes usuais que os olhos podem ver. Mas, é um monumento revestido por um profundo valor histórico, religioso e cultural. Sua história nos leva a conhecer um pouco mais a respeito da importante presença das raízes africanas na composição étnica da população campo-grandense.
As suas origens remontam ao ano de 1919, quando foi erguido o modesto templo ainda de madeira, resultado do trabalho da comunidade de ex-escravos e seus descendentes, ali instalada desde o início do mesmo século. No ano anterior, a vila tinha sido elevada à categoria de cidade, pela lei estadual no 772, de 16 de julho de 1918, sendo então intendente municipal (prefeito) nomeado, o deputado Rosário Congro. Enquanto isso, prosseguia, no entorno do modesto templo, o trabalho árduo da comunidade e os seus louvores tradicionais ao padroeiro que há muito acompanhava o grupo.
Cerca de quatorze anos antes da construção do tempo, memórias preservadas pela comunidade indicam que, por volta de 1905, chegou naquele local um grupo de viajantes, vindos a pé de fazendas do município de Jataí, Goiás, sob a liderança de Eva Maria de Jesus (Tia Eva). Naquele momento, a intendência geral da vila e a câmara de vereadores estavam ainda sendo organizadas, pois o município foi criado pela resolução no 225, de 26 de agosto de 1899.
A longa viagem demorou alguns anos, pois em função das necessidades, o grupo parava para plantar pequenas roças de subsistência. Assim, percorreu os sertões goianos até entrar em terras do Mato Grosso. Alcançaram a estrada para Coxim, de onde desceram rumo aos Campos da Vacaria, até chegar na vila de Campo Grande. Desse modo, a caravana seguiu parte do mesmo caminho percorrido em uma das viagens feitas pelo fundador do arraial, José Antônio Pereira, e seus parceiros.
Ao chegar em Campo Grande, Tia Eva era uma experiente mulher, ex-escrava, mãe e avó, com 55 anos de idade, detentora de muitos saberes tradicionais recebidos de seus ascendentes. Suas sábias orientações foram preservadas por sucessivas gerações, seja para resolver problemas comuns da vida ou para aliviar os tormentos da alma. Sempre tinha uma palavra generosa para quem recorresse aos seus conselhos, amparada na devoção a São Benedito e nas luzes espirituais africanas.
Com base nessas memórias, compreende-se que na época da formação dessa importante comunidade, o seu lugar de referência ainda pertencia à então chamada “zona rústica” de Campo Grande. Em outros termos, localizava-se além da zona suburbana, onde estava o vizinho bairro do Cascudo, como chamava naquele tempo o atual bairro São Francisco. Para finalizar, a história do templo consagrado a São Benedito desdobra-se na arrojada trajetória de vida e perseverança de uma comunidade que está nas raízes culturais da cidade. Tem a alma mergulhada na história da vila do início do século XX, que se tornou na bela capital sul-mato-grossense dos nossos dias.