Energia elétrica em Campo Grande
Há mais de um século, nos idos de 1916, faltando mais de seis décadas para a criação do Mato Grosso do Sul, os moradores de Campo Grande presenciaram a emocionante inauguração do primeiro equipamento de geração de energia elétrica para a iluminação da vila. Fogos subiram aos céus, discursos calorosos foram pronunciados para exaltar o progresso que permitiria a iluminação de algumas casas e ruas centrais do comércio. Estava iniciando um período de prosperidade econômica no município, devido ao aumento expressivo do preço do gado bovino, consequência da exportação de produtos pecuários para a Europa, durante a Primeira Guerra Mundial. Nesse contexto, a vila, que dois anos depois seria elevada à categoria de cidade, tornava-se em um dos principais polos da grande pecuária regional.
Os velhos lampiões a querosene estavam sendo aposentados e a população ansiava pela chegada de novas luzes para clarear aqueles tão desejados dias de progresso. Um jornal cuiabano noticiou que a rua do comércio (26 de Agosto) estava bem mais alegre. Ao anoitecer, as famílias aproveitavam a suave brisa noturna para passear no Largo da Igreja de Santo Antônio, quando ainda corriam acirradas disputas entre o Partido Republicano Conservador e o Partido Republicano Mato-Grossense. No ano anterior, o intendente Sebastião da Costa Lima foi autorizado pela câmara municipal a contratar os serviços especializados para a implantação do serviço de iluminação elétrica.
A vencedora da concorrência foi a firma Alfredo Veronesi e Irmãos, de São Paulo, que trouxe um equipamento montado por um eletricista também vindo daquela capital. O gerador funcionava com um motor movido a gasogênio (gás pobre), produzido com a queima do carvão de lenha, com potência muito reduzida. Esse mecanismo funcionava quatro horas por noite, das 18 às 22 horas, mesmo assim com interrupções frequentes para consertar as peças quebradas, da forma que fosse possível.
Essa usina foi instalada num barracão de madeira coberto de zinco, próximo ao atual Centro Cultural da rua 26 de Agosto, propriedade de Bernardo Franco Baís, que depois se tornou sócio de uma companhia de eletricidade, juntamente com outros investidores. No final do ano seguinte, o equipamento foi substituído por uma máquina a vapor bem mais possante, inaugurada oficialmente em 1º de janeiro de 1918, conforme consta no relatório do intendente Rosário Congro. Passados seis anos, em 1924, outro tempo de progresso chegou com a primeira usina hidrelétrica do município, construída no córrego Ceroula, sendo posteriormente construídas outras no rio Botas.
Uma boa dose de prudência fazia com que os velhos lampiões e lamparinas ainda ficassem guardados, para iluminar as noites em que o fornecimento de energia era interrompido. No mesmo contexto de desenvolvimento, também expandiram as escolas, colégios, entre outras instituições. No início de 1917, foi transferido de Aquidauana para Campo Grande o Instituto Pestalozzi, sob a direção do professor Arlindo de Lima, estabelecimento que deu origem ao Colégio Dom Bosco da Missão Salesiana. Evento esse de grande relevância cultural na irreversível difusão das luzes que transformaram a modesta vila daquele tempo na bela capital sul-mato-grossense dos nossos dias.