O Roubo do Panetone
Eu estava lá, mais um dia lecionando para aquelas crianças que ferviam, uma agitação sem igual, sem compreender porque toda aquela excitação, perguntavam sobre o intervalo a cada 2 minutos, eu, desconhecedor de qualquer novidade, questionava em meu subconsciente os porquês de toda aquela euforia. Voltando-me a sã memória, continuava minha catedrática às paredes, enquanto o bicho pegava; quando digo que o bicho, é exatamente o capeta mesmo, pareciam estar incorporados, arrastavam-se pelo chão, brigavam entre si, e gritavam palavrões, que eu, aos 50 anos de idade, desconhecia aquele léxico, acreditava ser alguma expressão da geração digital. Assim, aos 45 minutos do segundo tempo “fechavam-se a cortina e encerrava o espetáculo torcida brasileira”, Fiori Gigliotti podera saber minha alegria ao encerrar aquele espetáculo de 45 minutos. A Piazada saiu ao atropelo, nem agente de organização, AOE, nem PCOP, POC, GOE, PROATEC, PRP, quando digo NINGUÉM, refiro-me ao mais restrito dos poderes dado ao pronome indefinido. Pois bem, não deu tempo de fechar a porta da sala de aula, e a fila gigantesca fazia um caracol de vai e vem que parecia dobrar a quantidade de alunos existentes ali; fui descobrir que teríamos uma merenda especial minutos depois, mas a grande frustração é que não cabia a primeira pessoa do plural em minha descoberta, mas a terceira, Passei pela fila com os olhos estatelados àquele evento, entrei na sala dos professores, estávamos nuns 17 docentes, e conversavam como se estivessem dando aula, cada qual falava mais alto que o outro, o assunto, bem, o assunto era exatamente o governotone, digo, Panetone que iria passar por nós e não o experimentaríamos; houve professor tirando licença médica por sofrer aquela tortura, outros tomavam comprimidos e choravam, dizendo que não iam mais comer nada naquela escola, outros questionavam a direção, que de repente, entrou na sala e confirmava a mais repugnante de todas as News ouvida naquele ano: As sobras dos Panetones serão devolvidas à prefeitura municipal, tinha um professor a meu lado que ao ouviu esse desacato entrou em coma, foi socorrido imediatamente pelo SAMU, os médicos disseram que pantoneatite, que ia se recuperar e ficar bem e logo estaria em alta. A notícia foi se alastrando de tal forma que ao passarmos pela cozinha e vermos as cozinheiras com a faca, imaginávamos torturadoras correndo atrás de nós como Jack, estripador. Encerrado o período de aula, quando as cozinheiras estavam para sair, foram conferir os Panetones, não é que faltava 1, tinha apenas 399 sobrando, quando eram necessários 400, então se deu a investigação, chamaram a polícia, fizeram boletim, nenhum professor podia entrar ou sair do prédio, isso era por volta de 18:35, eu que tinha acúmulo precisei sair pelo portão da frente após ter ficado pelado para revista, senti-me desconfortável, mas depois fiquei sabendo que o procedimento fora um a um, e nada de encontrá-lo. Pensamos em fazer vaquinha e comparar algum Panetone chique, que pudesse substituir com louvor, mas as cozinheiras queriam exatamente aquele, exigiam aquela caixinha azul ou azul caixinha, com o símbolo do Brasil, pois era defensoras da democracia, lógico que todos víamos a democracia nos olhos de cada uma delas. O inquérito foi instaurado e os demais conseguiram ser liberado da unidade escolar às 24 horas, contudo teve 2 suspeitos que foram levados à delegacia para depoimento, eram suspeitos por não conseguirem arrancar as roupas, uma vez que tremiam e choravam escandalosamente. Certo é que aquele trauma tomou a todos nós, e quando novamente estávamos debatendo sobre os abusos que havíamos passado, a diretora oportunamente entra na sala e diz: Gente, chega de falar em Panetone! Vocês não têm dinheiro para comprar um Panetone? _ houve um silêncio total, alguns até avermelharam os olhos, dava para perceber que o 13º de todos ou quase todos já tinha ido embora, e que aquele natal seria sem Panetone. Dada esse último Discurso da gestora-mor, resolvemos que não falaríamos mais em Panetone naquela unidade, sentamos e começamos a decidir os projetos do ano seguinte, entre empolgações planos, e muita descontração, as vezes alguém ainda avermelhava os olhos e disfarçava o trauma. Entre tantos projetos elencados, adivinhe meu caro interlocutor, qual projeto fora escolhido para a escola inteira trabalhar? – Pois queira ou não acreditar, por força do destino a Padaria Piloto, e eu, bem, eu que narrei essa história ensinarei a receita do Panetone da caixa azul, claro que para isso precisaria degustá-lo, contudo arriscarei a receita mesmo tendo certeza de seu sabor, sem nunca o ter colocado em minha boca, juro que ficará igualzinho