Onde você está?
Uma época ela tinha uniforme. Era formosa. Arrumada. Mas, com o passar dos anos, foi se desfazendo. Não ela, física, mas ela mental. Ela sempre foi minha ilusão. O encanto foi se acabando. A idealização foi diminuindo. Não adianta insistir. A mágica da visão estava cega, estava infantil. Não mais serve essa beleza, já que ali não havia espírito, mas tão somente um corpo. Um corpo vindo do passado, de uma época de criança. Não serve mais. Não contagia mais.
Poderia eu insistir. Em querer, em desejar, em me aventurar, mas será mais um engano. O coração não aguenta mais. Sofrer com uma nova expectativa. Expectativa perdida, mais uma vez enganado. Maltratado. Não serve, não é assim. Não insista. Um engano que vem da própria ilusão, de um amor que é perdido já no começo, que é idolatrado por um sentimento interno. Sentimento falso. Falso porque ali não tem o que eu quero. Não tem o que me faz bem...
O que me falta está mais fundo. Não está somente no corpo idolatrado, não está na vaidade, não está na dureza interna de muitas. Está mais longe… está nas estrelas, no banho de chuva, está no cheiro, nas plantas, no andar descalço, no abraço terno, no toque macio.
Esse corpo envaidecido, bruto, bonito-feio não serve. Essa alma vazia, impura, acelerada, sem sensibilidade, não ajuda, não floresce, não cresce, não envelhece.
Quero envelhecer, quero vê seu sorriso puro, seu olhar verdadeiro… sua alma…