Território seco
Queima-se o pavio, mas a bomba não explode.
Não há porque iniciar um incêndio se a intenção não é queimar, não há porque regar uma plantação se a intenção não é vê-la crescer. Embora a graça da vida seja a descontinuidade, só é engraçado para quem a aprecia, às vezes a irreverência do momento passa o falso consentimento de irresponsabilidade, cuidado com a mão que você segura.
Voltam os tempos de água, seria eu um ser tão aquático ao ponto de não suportar a secura das pessoas?
Uma vez que me vejo em território seco, me vou evaporando, aos poucos, perdendo a vida que me faz ser, a água que percorre as minhas veias. Sinto o desgaste na pele, é triste ter que deixar de ser eu para que alguém me note de todo.
Nunca me faltou água, me falta, sim, a chance de chover.
Não choveu no meu futuro, como achei que seria, no entanto, sigo a caminhada não mais olhando para a frente, mas olhando para o alto, em busca de uma nuvem que me faça querer viver novamente, hidratar.
Canso, mas persisto.