Professora Mariana Joaquina Gaudie de Almeida
Este artigo reverencia a memória da professora Mariana Joaquina Gaudie de Almeida, que, no início dos anos 1890, exerceu o magistério público em Campo Grande, atual capital do Mato Grosso do Sul. Logo após o povoado ter sido elevado à categoria de freguesia e distrito de paz, de acordo com a Lei nº 792, de 23 de novembro de 1889, essa educadora pioneira assumiu uma aula primária mista, frequentada por meninos e meninas, mantida pelo governo estadual, cujas lições eram ministradas em sua própria residência. Nesse sentido, sua trajetória na educação local ocorreu no mesmo quadro de atuação do professor José Rodrigues Benfica, ex-combatente da guerra da Tríplice Aliança, considerado “o primeiro mestre-escola de Campo Grande.”
Comprova esse registro histórico a existência de um requerimento “assinado por Dona Mariana Joaquina Gaudie de Almeida”, inserido no expediente da Secretaria do Tesouro do Mato Grosso, do dia 19 de dezembro de 1890, solicitando o pagamento do seu salário como professora de Campo Grande. Documento esse publicado na Gazeta Official do Estado de Matto-Grosso, em 23 de dezembro de 1890, acessível hoje no vasto acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Sua reivindicação chegou às mãos do presidente do Estado e foi então enviada à Contadoria do Tesouro para as devidas providências. No mesmo contexto é possível identificar a existência de várias outras petições de professores, solicitando o pagamento de seus salários e dos aluguéis da casa onde as aulas isoladas eram ministradas antes da criação dos Grupos Escolares.
Natural de Cuiabá, Mato Grosso, Mariana Joaquina Gaudie Ley (nome de solteira), era filha de Joaquim Gaudie Ley e Catarina Dulcia Bueno do Prado. Casou-se com João Honório Vieira de Almeida, fixando residência em Campo Grande, por volta de 1886, onde viveu por cerca de três décadas e faleceu em 1916, aos 74 anos de idade. Como muitos outros professores daquele tempo, a mestra foi levada a dedicar-se somente ao magistério particular. Nesse sentido, solicitou sua exoneração da instrução pública e foi atendida, conforme publicado no jornal cuiabano O Matto Grosso, em 27 de setembro de 1891, destacando tratar-se da regente da escola primária mista de Campo Grande.
No momento de transição do regime monárquico para o republicano, havia ainda no recém-criado distrito de paz uma grande instabilidade no funcionamento das primeiras instituições públicas e, particularmente, no que diz respeito às escolas primárias estaduais. Foi nesse contexto que a mestra teve dificuldades para receber regularmente o seu honrado salário de professora.
É possível afirmar que Dona Mariana de Almeida foi uma das primeiras mestras do arraial fundado por José Antônio Pereira, atuando no início do período republicano, quando surgiram alguns sinais de expansão no campo da instrução primária pública. Além do mais, foi protagonista de um novo tempo com a inclusão crescente das meninas no estudo escolar das primeiras letras. Por tudo isso, justifica-se esse retorno que busca reverenciar memórias de personalidades que tudo fizeram para fortalecer as bases históricas cultuais da bela capital sul-mato-grossenses dos nossos dias.