Professora Maria Amada de Jesus Camargo
Este artigo reverencia a memória da professora Maria Amada de Jesus Camargo, cujo nome está na história de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, do início do século XX. Muito antes da vila se tornar cidade, essa educadora manteve uma escola particular em sua ampla residência, sob o regime de internato, frequentada por filhos e filhas de fazendeiros que moravam muito distante da sede do município. Na época, a instrução primária gratuita, ministrada por professores do estado, ainda era bem reduzida, antes da criação dos primeiros grupos escolares.
Uma neta e aluna da saudosa mestra também deixou o seu nome na história da educação local: a professora Ayd Camargo Cesar, normalista formada na Escola Normal de Campo Grande, nos anos 1930, que por longos anos exerceu o magistério e foi diretora da Escola Visconde de Cairu, fundada pela comunidade japonesa.
Rememorar esse cenário cultural é possível graças aos textos escritos por Paulo Coelho Machado, assim como pela professora Maria da Glória Sá Rosa, na obra Memória da Cultura e da Educação em Mato Grosso do Sul, publicada em 1990. Natural de Paranaíba, hoje Mato Grosso do Sul, Maria Amada nasceu em 1872, filha de Maria Teresa Garcia e Camilo Garcia de Souza. Aos 22 anos, casou-se com um boiadeiro paulista, que no exercício do ofício percorria os sertões do sul do Mato Grosso. Por volta de 1898, numa comitiva de trabalho, teve o infortúnio de ser assassinado, vítima de bandoleiros que procuravam roubar valores transportados para a compra das boiadas.
Mulher de pulso firme, a jovem e culta viúva resolveu começar vida nova como professora em Campo Grande, onde criou sua única filha, Guiomar. Com o patrimônio deixado pelo marido, comprou a propriedade na qual abriu o internato, uma casa com amplo quintal arborizado com os fundos para o córrego Prosa, próximo à esquina das ruas José Antônio com Barão de Melgaço.
A alfabetizadora teve a sua competência reconhecida na sociedade campo-grandense. Ensinava todas as matérias previstas para o curso primário, assim como trabalhos manuais e declamação. Seguia os métodos pedagógicos do seu tempo, usando livros didáticos do renomado autor Felisberto de Carvalho. Ficou na memória a eficiência de sua didática para explanar as matérias. Assim, conseguia que os alunos tivessem avanços notáveis na leitura e na escrita depois de apenas um ano de estudos.
A mestra tinha por princípio que nenhuma criança deveria ficar sem estudar por falta de condições. Motivo pelo qual sempre procurava arrumar tempo para ensinar um grupo de alunos pobres, sem cobrar pelas aulas. Maria Amada era ainda exímia doceira, fazia decoração para festas e arrumava tempo para fazer enxovais para noivas. Por essas e outras razões vale a pena revigorar nestas linhas a eterna presença da educadora na memória e na história cultural da nossa querida Campo Grande.