Epílogo:
O tempo vai se estiolando lentamente na insipidez da vida. A desgraça, não! Ela permanece impiedosamente causando mais dores ao coração do pobre Carlinhos. O silêncio reina! Carlinhos não chora mais. Não estava conformado, todavia, as dores – ao que parece – haviam calejado o seu coração, emudecido a sua voz. Sentado no chão mantinha no pequeno colo a cabeça inerte, sem vida, da sua amada mãe. Com a fralda da sua camisa enxugou no rosto da mãe as lágrimas que dos seus olhos fluíam em Niágara profusão. E elas voltaram a jorrar – eram impossíveis de ser contidas!
Um vagalume vadio, invadindo o recinto, bailou na escuridão. Lá de fora vinham os acordes e melodia de uma plangente música natalina, fazendo quebrar o silêncio reinante.
Lá fora, a noite com a cor do ébano, enfeitada pelas incandescentes estrelas, continuava brindando a todos com o seu magistral espetáculo. A lua – por estar em fase nova – gozava do seu merecido descanso, não aparecia. Todavia, um brilhante raio de luz – vindo não se sabe donde e espremido por um dos muitos buracos do teto de zinco – pairava sobre o corpo ao chão no centro do barraco. A linda Rosa Vermelha cintilava sob os raios vindos do céu.
O menino apanhou-a. Entre soluços e tristemente, sorveu com um beijo as cintilantes gotículas orvalhas que se misturara com as suas lágrimas. O Vagalume vadio encerrou o seu bailado e saiu de cena. As lágrimas do menino ao caírem sobre as suas aveludadas pétalas, bailavam e cintilavam como pérolas sob a divinal argêntea luz.
Carlinhos osculou o sofrido rosto da mãe amada. Novamente, beijou as pétalas da vermelha rosa e depositou-a sobre o inerte corpo de Maria das Dores que, estiolado sobre o chão jazia, mas cujas dores nunca mais sentiria.
Carlinhos passou a palma da mão sobre o morto rosto enxugando-o. Abraçou-o e novamente, beijou-o sorvendo algumas lágrimas que não havia, de todo, se secado e, entre soluços, balbuciou:
-Feliz Natal!... (Soluços!) Feliz Natal, querida Mamãe!
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