POR FAVOR, VOCÊ SABE ONDE FICA O FIM DE MUNDO?
Se já ocorreu com você ou se estiver por acontecer, você se lembrará e vivenciará esse meu texto principalmente se o tiver lido.
O fenômeno não é novo mas ultimamente, talvez com o advento da pandemia e das distantes e frias "relações on line", ele se tornou mais frequente e visível, principalmente aqui no nosso país.
Você entra num estabelecimento comercial para comprar qualquer coisa e qualquer pergunta que você faça (tipo usos e costumes bem "dinossáuricos" mesmo!) a resposta será padrão: "ah, isso eu não sei informar...pergunte para aquele ali".
Daí, você, que é uma pessoa insistente, esperançosa e confiante na boa vontade alheia, se esforça para achar super normal, algo até casual, alguém que trabalha na loja a vender um produto não saber absolutamente nada do que se trata e então, tenta o sugerido, "pergunta para aquele ali", que também nem desconfia do que se trata e continua a enviar você para um outro "aquele ali".
Já contei que pouco antes da pandemia (ela parece águas divisórias dos antes e depois) perguntei sobre um vestido que gostei: "qual o tecido?" e a resposta foi: "ah, isso não importa, basta ser bonito".
Levei um susto que perdi a fala.
No supermercado é a mesma coisa.
Outro dia perguntei para um rapaz se tinha gelatina em folhas.
Ele me olhou, também assustado, perguntou para os funcionários da loja toda sobre o que era gelatina em folhas.
Até que um seu colega sugeriu :"pergunta pro gerente!"...que também não sabia o que era e nem se tinha o produto. Impressionante.
E quando você está numa cidade pela primeira vez e resolve heroicamente, SEM OLHAR NO GOOGLE, perguntar para alguém dali coisas simples como: "onde fica a igreja principal?" ou "qual o melhor parque da sua cidade?", ou ainda " o que tem de legal aqui pra se fazer?" e a pessoa faz uma cara de desespero como se estivesse na prova do ENEM?
Dia desses queria comprar uma decoração natalina com luzes piscantes em "led". Queria algo bem pequeno para o que eu pretendia.
Entrei na loja e encontrei um vendedor bem jovem que prontamente me atendeu.
"Por favor você teria uma coisinha assim...tipo..."
"sei não dona, conheço isso não!"
Insisti e fui com ele revirar as prateleiras da loja.
De repente exclamei:"-olha, encontrei esse aqui, acho que é uma estrelinha piscante, será?!"
E ele: "Sei disso não, dona. Acho que é um pisca-pisca! eu nem sabia que a gente vendia isso aqui! Vou ver se funciona!"
Super gentil. Homem de boa vontade, eu senti. "tá funcionando, dona!". Nem pedi mais nada.
Cheguei em casa e foi então que, ao abrir a embalagem, vi que eu havia comprado uma ponteira piscante de árvore de Natal. Nada a ver com o que eu pensava comprar.
Há uns anos atrás, resolvi perguntar algo num metro fora daqui.
A pessoa me olhou, pegou o celular, entrou no "Google", "printou" a página e me mostrou o mapa...sem falar uma palavra, nem mesmo na sua língua...
"thanks, very much" respondi. E continuei perdida naquele metro fim de mundo...
E há poucas horas, numa cidade do interior de São Paulo, que nos era desconhecida, tentávamos pela estrada encontrar um ponto turístico conhecido.
Numa parada da estrada perguntei: "vocês têm mel direto do apicultor?"
Silêncio total, nem uma palavra. Até que ele foi rompido por alguém que tentou: "pergunta na próxima parada, acho que lá tem!"
Continuamos pelo caminho. De repente...
"Waze" sem conexão. Bateu o desespero...Só restou perguntar.
"por favor, poderia nos dizer onde fica o mirante tal?"
"Mirante? Que que é isso? Nunca ouvi falar disso não, moça, pergunta ali na próxima guarita!"
E assim começou nossa via sacra do "pergunta pra aquele ali".
E o "waze" se negando a nos dar o caminho das pedras...
Até ali já havíamos enveredado por um lugares sinistros, estrada de asfalto findada em terra batida, pirambeiras insondáveis, borboletas refrescantes, marcha a ré próximo a penhascos...
"por favor, pelo amor de Deus, poderia me dizer como faço para..."
E alguém respondeu:
"Ah, é logo aqui mesmo, é só oiá ali,ó!".
Aliviados lá estávamos nós no destino final.
Finalmente... havíamos encontrado o nosso fim nesse "fim de mundo"...