Queremos nosso amigo de volta
Meu amigo está doente. Os primeiros sintomas surgiram há mais ou menos um mês, após ele começar a namorar uma moça de segundo grau completo, regatiana de Poço das Trincheiras-AL, aproximados setenta quilos, loira, porém bonita. Desde então, passou a fazer uso de uns comportamentos estranhos.
Ele, que sempre fez parte da categoria de homens pragmáticos (pra não dizer desleixados) e comprometidos com causas futebolísticas, passou à dos homens barba feita, corpo malhado e que detestam futebol e outras drogas. Entrou na academia, onde em apenas uma única semana perdeu 20kg dos 70 que possuía inicialmente. Agora anda perfumado 24h por dia, barba e cabelos asseados, não bebe mais, apenas ama, e ama muito, a moça loira de Poço das Trincheiras.
Ele não sabe, mas noventa e nove por cento de seus amigos suspeitamos que ele sofre de uma doença cujo principal sintoma é sofrer, uma doença cuja cura a Ciência ainda não descobriu, uma doença que o afasta de si e do pouco discernimento que conservava. Agora ele frequentemente, se lhe perguntarem em que dia da semana se encontra, qual a cor do cavalo branco de Napoleão, dificilmente saberá responder. Porque ele está apaixonado, cem por cento apaixonado e, apesar de dizer que existe como antes nunca existiu, já não pensa, apenas ama, e ama muito e exclusivamente, dia e noite, a moça loira de Poço das Trincheiras.
Ele está apaixonado, ou talvez pior ainda, amando. Todos seus amigos torcemos para que seja apenas paixão, e não amor, o mal do qual nosso amigo sofre. Porque se for apenas paixão ele poderá restabelecer-se mais rapidamente, não precisará esperar, digamos, uns dez anos até o encanto desfazer-se per se. E que se for amor, que seja apenas físico, desses que duram apenas algumas noites e vários elogios mútuos e quase nunca se findam no juizado de pequenas causas ou na delegacia de polícia.
Queremos nosso amigo de volta o quanto antes, à categoria dos homens pragmáticos (pra não dizer desleixados) e comprometidos com causas futebolísticas, à dos homens que nem pensam nem existem, à categoria dos homens saudáveis.