FOI ASSIM... Capítulo I
Um namoro conturbado
A família logo tomou conhecimento do nosso namoro e a primeira providência foi tirá-la do colégio. Na ocasião não entendi, mas hoje entendo que se fosse um pai talvez fizesse o mesmo. Ela tinha apenas 13 anos e para a mentalidade daquela época isto não era aceitável.
Começaram as pressões. As dificuldades para sair de casa, até mesmo para visitar uma amiga. Ficávamos semanas sem nos ver, nem de longe. Todas as noites, e algumas vezes mesmo de dia eu fazia plantão numa das esquinas próximas, em busca da oportunidade de ao menos darmos um aceno um para o outro. Às vezes ela conseguia mandar-me um recado através de uma amiga. Foram tempos difíceis aqueles.
Por via de um destes recados fiquei sabendo que haveria um pic-nic na praia de Ponta Negra e que ela participaria. Dei um jeito de estar lá. Nem lembro mais como consegui, na época não havia ônibus ou qualquer outro transporte regular. Ela fora na carroceria de um caminhão, juntamente com as amigas, prática muito comum das famílias daquela época. Foi como se estivéssemos num paraíso. Subimos e descemos um morro que havia lá, na verdade ainda está lá, chamado Morro do Careca, devido a uma falha na vegetação do seu topo. Naquele tempo ainda era permitido escalar o morro, mas hoje tornou-se um ponto turístico, e visando sua conservação sua escalada está proibida.
Dias depois, fiz chegar às mãos dela um desenho que havia feito, onde ela aparecia de maiô. Era um desenho inocente, as roupas de banho não eram ousadas como as de hoje. Este desenho veio a ser visto pela família, que viu nele pobreza de caráter de minha parte e motivos para dificultarem ainda mais a nossa vida. Como sempre acontece nestes casos, quanto mais proibiam, mais nos empenhávamos em resistir. Acho que existe uma lei na Física que explica bem como isto acontece.
Durante uns dois anos vivemos nesta disputa a ver quem iria desistir, até que meu futuro sogro perdeu a paciência e bateu nela. Depois armou-se com uma chave de fenda e se dirigiu até a esquina, onde existia uma mercearia onde eu me encontrava, disposto a realizar alguma agressão contra mim. Felizmente meu anjo da guarda estava atento e nada aconteceu. Ele voltou para casa e pregou as janelas com pregos e tábuas para que ela não pudesse sair. Enquanto ele realizava essa tarefa, nós conversávamos através de uma fresta numa cerca que havia no fundo do quintal, e que tinha acesso através de um sítio de mangueiras que passava por trás da casa. Nesta ocasião chegamos a aventar a ideia de uma fuga, para morarmos juntos. Éramos muito ingênuos, acho que ela deveria ter uns quinze anos, uma criança. Eu já era um “velho” com dezoito anos.
No dia seguinte o pai a levou para a casa de um parente em uma cidade vizinha. A situação havia chegado ao limite. (continua)